Avisos: |
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Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis. Spoilers do livro "As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" |
A Grande Profecia de Nárnia
Capítulo 3: A Prova de Gunnar
O sol se mostrava radiante naquela tarde. Qualquer um que gostasse de um bom passeio por uma floresta densa iria gostar de ver os raios tomando espaço entre as copas das árvores e os sons dos pássaros nos galhos delas. Mas os dois que caminhavam pela floresta naquele momento não ligavam para isso. A Feiticeira Branca só estava querendo chegar logo ao seu destino e Gunnar ainda estava mostrando muita admiração por aquela mulher. Quando chegaram ao limite da floresta, Jadis avistou ao longe o local para onde iria, levando consigo o anão. Logo chegaram à cidade que os gigantes chamavam de Harfang.
Cada passo que o anão dava fazia-o admirar a cidade de casas enormes que estava conhecendo. Eram gigantes para todo lado, envoltos a outros animais que Gunnar nunca tinha visto em Nárnia. Eram minotauros, ciclopes, ogros, duendes, e outros seres que o anão ainda não conhecia, e todos faziam reverência à Jadis quando ela passava por perto deles.
Chegaram a um lugar que lembrava algo como um gigantesco castelo, e foram recebidos por um grande minotauro que, em sua reverência, tratou a Feiticeira por “Minha Rainha”.
- Comandante Otmin. Preciso preparar umas coisas. Não quero ser interrompida por ninguém. E leve o anão com você. Mostre a ele os fiéis e, quando eu chamar, quero que o leve ao salão principal.
- Como quiser, minha Rainha. – disse o minotauro, prestando outra reverência e indo na direção do anão fazendo com que este o acompanhasse.
Gunnar conheceu aqueles que a Feiticeira chamava de “fiéis”. Mostraram para ele as armas que possuíam e as armaduras que produziam o tempo todo. O anão olhou com interesse para todas aquelas coisas e se lembrou de quando aprendeu com seu velho pai o trato com arco e flecha. Pegou um arco e pôs-se a treinar um pouco sua pontaria. De tanto treinar, não viu que as horas se passaram e logo o minotauro voltou e o chamou para o encontro com Jadis.
O anão foi levado para uma grande sala com aparência sombria, que tinha enormes colunas de cada lado, algumas cadeiras nos cantos e ao fundo se encontrava a Feiticeira sentada em uma cadeira que lembrava um trono, que era posta frente a uma grande mesa. Atrás dela havia um gavião, dois enormes morcegos e um corvo, empoleirados como se fossem eternos vigias do salão. Jadis mandou que o anão se aproximasse da mesa.
- Preciso que você faça um trabalho. Vai servir para provar sua lealdade para comigo. Sendo bem sucedido, estará entre os meus. Mas se não fizer o que for preciso, não precisa nem voltar.
- Posso perg...
- Não terminei ainda. – interrompeu a Feiticeira olhando friamente para os olhos do anão. – Você só está aqui porque vem de Nárnia. E é em Nárnia que vai executar o que vou lhe dizer.
A Feiticeira contou em detalhes o que o anão precisaria fazer. E também lhe deu duas coisas: Um frasco com um líquido vermelho e um pó para ser usado caso necessário, explicando o uso deles detalhadamente. Assim que Jadis terminou de dar as ordens, Gunnar partiu direto para Nárnia. Mas a Feiticeira precisava ter certeza da lealdade do anão. Mandou que seu corvo o seguisse para observar os passos dele, e voltasse quando tivesse os resultados. O anão não gostou do caminho que teve que tomar para voltar ao reino, de andar pela floresta novamente, mas sabia que era preciso para ser aceito ao lado da Feiticeira. Levou alguns dias, mas enfim já estava de volta em Nárnia e já estava chegando onde precisava estar.
Lufânia, uma coruja valente, estava no alto de uma árvore tendo uma conversa agradável com um pardal amigo. Mas a conversa não atrapalhava sua “vigia”. Tanto que avistou ao longe, próximo ao Ermo do Lampião, o anão que ela conhecia bem, pois eram bons amigos antes do desaparecimento deste. Achava estranho Gunnar aparecer de repente e falou ao pardal:
- Nutis, está vendo aquele anão? É o Gunnar.
- Anão? Onde?
- Na direção do Lampião. – disse Lufânia, apontando para o Ermo do Lampião.
- Estou sim. Tem certeza que é Gunnar? Está sumido há muito tempo...
- Tenho sim. Faça-me um favor. Voe até o pai dele e diga para vir pra cá. Estou tendo um estranho pressentimento.
O pardal conhecia bem aquela coruja, e não disse mais nada. Apenas se lançou ao ar para ir atrás de Graarnes, pai de Gunnar, ao mesmo tempo em que Lufânia alçou vôo em direção àquele anão para então saber o motivo da visita inesperada, e ganhar tempo até que o velho anão chegasse.
- Gunnar, que surpresa. – disse a coruja, que estava mesmo contente por rever um amigo. - É bom te ver de novo.
O anão nada lhe respondeu. Continuou seu caminho tentando não dar atenção à coruja e passou por ela sem olhá-la.
- Você nos deixou preocupados. Seu pai mandou muitos amigos à sua procura.
- Não quero saber de meu pai. Estou bem sem ele. – disse de modo ríspido a ela, mas sem parar de caminhar e sendo seguido pela coruja.
- Mas então não voltou pra ficar? Esperávamos muito sua volta. Todos nós gostamos de você.
O anão logo percebeu que a coruja não o deixaria em paz. Ela seria realmente um empecilho para o que iria fazer. Tratou logo de colocar a mão na sua bolsa e, sem que a coruja percebesse, pegou um pouco do pó que a Feiticeira lhe deu. Devagar, foi se virando na direção de Lufânia e disse de forma sarcástica.
- Também gostei muito de te ver. Mas eu preciso fazer isto. Boa noite. – ao dizer essas palavras, o anão levantou sua mão com a palma cheia daquele pó e o soprou no rosto da coruja, fazendo com que ela tivesse uma leve tontura e, andando para trás, tentando segurar em algo, acabou caindo no chão, num profundo sono.
Por sorte, o pardal encontrou Graarnes perto de onde estavam. Avisou-o sobre o reaparecimento de Gunnar, e este ficou num misto de alegria e perplexidade ao saber. Deixou no chão as ferramentas que carregava e tratou de correr ao encontro do outro. O velho anão, que chegou bem na hora de ver a coruja caindo, se surpreendeu ao ver o filho há tanto tempo sumido. Pensou logo que Gunnar havia feito algo com Lufânia.
- Gunnar! O que aconteceu com Lufânia? – olhando para a coruja, depois voltou a olhar o filho. - E onde você esteve? Estávamos preocupados. – o velho anão tentava obter a atenção do filho, que olhou um pouco para ele e voltou a caminhar em direção à árvore que protegia o reino.
- Porque está tão preocupado? Sua vidinha parece ser mais importante.
- Não diga isso, Gunnar. Sabe que amamos você. O que pode haver de errado em nós para que não goste?
- Você nunca entenderia. Estou certo que Nárnia precisa de umas mudanças. – falando isso, pegou o frasco que guardava na bolsa.
- Ora, meu filho. Do que está falando? Estamos vivendo nossa melhor época. A Rainha é boa conosco, sempre vivemos assim. Nossa vida sempre foi boa para nós.
Nesse momento já estavam próximos o suficiente para Gunnar executar o plano a que estava disposto, e olhando fixamente em direção ao seu alvo, disse ao velho pai.
- Pois é isso mesmo que precisa mudar. A nossa vida... – dizendo isto, Gunnar jogou o frasco, fazendo-o voar em direção à árvore, cuja trajetória foi acompanhada pelos olhos incrédulos de Graarnes, alguns pássaros e um fauno que caminhava próximo e acabou por acompanhar o final da conversa dos dois anões. Uma outra árvore, que também sentiu o frasco ser jogado, levou seus galhos ao encontro deste, na tentativa de desviar seu trajeto, ou até mesmo de impedir que este atingisse a árvore mais importante do local. Mas foi em vão. O frasco atingiu o tronco corpudo daquela árvore quebrando-se e o líquido que estava dentro tomava conta dela. Um grande urro - que mais parecia um trovão – foi ouvido e sentido à quilômetros de distância, que fizeram os dois anões, e quem estava perto, taparem os ouvidos. Depois disso, o velho anão se deu conta do que aconteceu, pegou Gunnar pelos braços e bradou:
- O que você fez?
- Algo que vai mudar nossas vidas para sempre! – respondeu Gunnar, no momento em que um espetáculo terrível chamou a atenção dos dois, e de todos que estavam à volta.
A árvore se retorcia incrivelmente. Seus galhos estavam perdendo forças e suas folhas não estavam mais luzindo como prata e caiam freneticamente. Um estranho barulho, que parecia gritos de lamento, estava saindo dela. No ponto onde o frasco se partiu, uma cor negra-acinzentada estava tomando conta do lugar e se espalhava pelo restante do tronco. Logo a árvore estava virando cinza, como se estivesse toda queimada, mas sem que nenhuma labareda a tocasse. Era estranho para aqueles narnianos acompanharem aquilo tudo sem poder fazer nada, por que todo o processo foi muito rápido. Tão rápido quanto Gunnar que se soltou das mãos de seu pai e pôs-se a correr para longe dali. Mas antes que sumisse das vistas de quem estava no local, disse vivamente:
- Preparem-se todos. A Feiticeira Branca está vindo para Nárnia. – e voltou a correr em direção que ninguém imaginava onde fosse. Alguns narnianos que ali chegaram e entenderam a situação tentaram correr atrás de Gunnar, mas foram impedidos com o grito de Graarnes.
- Não... Deixem ir. Temos uma situação mais grave conosco. – o velho anão entendia bem o problema, pois entendera as palavras do filho. Virou-se para a árvore que já estava toda decomposta e em cinzas, e pôde ver que Lufânia já estava acordada e, no meio do que restou das folhas, chorava copiosamente a perda da protetora, sendo acompanhada pelos pássaros que tinham visto tudo. Num sobressalto, gritou a todos que estavam presentes.
- Precisamos avisar a todos. Alguém leve a noticia até Cair Paravel. – depois correu em direção à coruja disse para ela: - Lufânia, precisamos de você. Vá até o vale dos centauros e avise ao Nedamus sobre a árvore. Ele vai saber o que fazer.
Lufânia entendeu a urgência do pedido, mas não se sentia bem para a empreitada. Tentou dizer que não conseguiria, mas alguns rouxinóis, pardais e outros pombos repetiam para ela:
- Nós vamos com você Lufânia. Vamos voar ao seu lado. – enfim, a coruja concordou, engoliu a tristeza e pôs-se a voar na companhia daqueles pássaros para avisar os centauros. Graarnes, que acompanhou com os olhos o vôo daqueles pássaros, voltou a olhar em volta a procura de alguma ajuda. Encontrou alguns esquilos que olhavam perplexos o que restava daquela majestosa árvore – era justamente deles que precisava.
- Queridos esquilos. Ajudem-nos. Avisem a todos os narnianos que precisamos nos reunir aqui mesmo. Se é verdade o que dizem sobre a Feiticeira Branca, estamos perto de grande perigo. – os esquilos assentiram com a cabeça e cada um começou a correr para um lado.
O corvo que a Feiticeira mandou para vigiar Gunnar estava satisfeito. Assistira tudo com atenção e já tinha informações suficientes para Jadis. Voou de volta para Harfang tão rápido quanto fosse necessário, porque sabia que a Feiticeira tinha planos para o anão e para Nárnia.
Dias depois, Gunnar voltava para a cidade dos gigantes. Logo que chegou, foi mandado para encontrar-se com a Feiticeira em um outro local. O minotauro Otmin o acompanhou até uma sala estranha. O anão viu a Jadis ao lado de uma grande estátua, e ao lado desta, uma pequena mesa de pedra onde havia um machado de guerra. Nervosamente sorriu para a mulher que se encontrava com seu ar superior de sempre.
- Minha Rainha. – Gunnar resolvera tratar a Feiticeira como os outros animais a tratava. – Suas ordens foram cumpridas.
- Já estou sabendo. Fez um bom trabalho. Aproxime-se e estenda sua mão sobre essa mesa, com a palma para cima. – sem entender porque, Gunnar colocou sua mão ao lado do machado sobre a mesa, mas não notou que nesse momento as unhas da Feiticeira estavam crescendo como pequenas pontas de lança.
- Quero que você se lembre de que agora você me pertence. Você dará início a uma nova raça de anões. Os anões negros... – ao dizer isto, levantou sua mão, juntou seus dedos e cravou-os na palma do anão, que soltou um grito abafado e sentiu algo percorrer pelo seu corpo, fazendo seus olhos mostrarem um brilho negro por um instante e seus cabelos escurecerem um pouco. Logo a Feiticeira soltou a mão de Gunnar e disse para ele:
- Esteja preparado. Você será meu segundo olho. Onde eu for você irá. Este machado é para você. Na guerra, será sua arma. – Gunnar olhou o machado. Sua respiração ofegante não deixava contemplar aquele presente de forma adequada. A Feiticeira foi caminhando para a saída, e se dirigiu ao seu comandante.
- Comandante. Prepare todos. Vamos partir para Nárnia amanhã cedo. – o minotauro prestou mais uma reverência, mostrando assim que iria cumprir a ordem.
Agora Gunnar tomava dimensão da situação em que se metera. Não estava arrependido, mas não saberia se poderia continuar. Era tarde demais. Quando olhou novamente sua mão, não viu marcas nem cicatrizes. Era como se a Feiticeira nem o tivesse tocado. As marcas sumiram misteriosamente. E antes que Jadis saísse da sala, se virou novamente para o anão e disse-lhe:
- Outra coisa: De agora em diante, você se chamará Ginnarbrik. – e saiu, deixando os dois.
O nome que recebera da Feiticeira soou estranho para ele, mas não podia contrariá-la. Pensando no que acabou de lhe acontecer, o anão olhou novamente para a grande estátua que se postava à sua frente. Notou agora que era de um gigante que segurava uma grande clava em posição de ataque. Um pensamento lhe ocorreu e resolveu comentar com o minotauro.
- Essa estátua... É o que estou pensando? – perguntou mesmo sem saber se devia. A resposta de Otmin foi curta e direta.
- É o que se recebe quando se tenta trair nossa Rainha.
Amei a frieza do Gunnar... Ou melhor, do Ginnarbrik...
ResponderExcluirPOSTA MAIS!!! \o/