domingo, 8 de fevereiro de 2009

Capítulo 3: A Prova de Gunnar





Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.
Spoilers do livro "As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa"




A Grande Profecia de Nárnia
Capítulo 3: A Prova de Gunnar

O sol se mostrava radiante naquela tarde. Qualquer um que gostasse de um bom passeio por uma floresta densa iria gostar de ver os raios tomando espaço entre as copas das árvores e os sons dos pássaros nos galhos delas. Mas os dois que caminhavam pela floresta naquele momento não ligavam para isso. A Feiticeira Branca só estava querendo chegar logo ao seu destino e Gunnar ainda estava mostrando muita admiração por aquela mulher. Quando chegaram ao limite da floresta, Jadis avistou ao longe o local para onde iria, levando consigo o anão. Logo chegaram à cidade que os gigantes chamavam de Harfang.
Cada passo que o anão dava fazia-o admirar a cidade de casas enormes que estava conhecendo. Eram gigantes para todo lado, envoltos a outros animais que Gunnar nunca tinha visto em Nárnia. Eram minotauros, ciclopes, ogros, duendes, e outros seres que o anão ainda não conhecia, e todos faziam reverência à Jadis quando ela passava por perto deles.
Chegaram a um lugar que lembrava algo como um gigantesco castelo, e foram recebidos por um grande minotauro que, em sua reverência, tratou a Feiticeira por “Minha Rainha”.
- Comandante Otmin. Preciso preparar umas coisas. Não quero ser interrompida por ninguém. E leve o anão com você. Mostre a ele os fiéis e, quando eu chamar, quero que o leve ao salão principal.
- Como quiser, minha Rainha. – disse o minotauro, prestando outra reverência e indo na direção do anão fazendo com que este o acompanhasse.
Gunnar conheceu aqueles que a Feiticeira chamava de “fiéis”. Mostraram para ele as armas que possuíam e as armaduras que produziam o tempo todo. O anão olhou com interesse para todas aquelas coisas e se lembrou de quando aprendeu com seu velho pai o trato com arco e flecha. Pegou um arco e pôs-se a treinar um pouco sua pontaria. De tanto treinar, não viu que as horas se passaram e logo o minotauro voltou e o chamou para o encontro com Jadis.
O anão foi levado para uma grande sala com aparência sombria, que tinha enormes colunas de cada lado, algumas cadeiras nos cantos e ao fundo se encontrava a Feiticeira sentada em uma cadeira que lembrava um trono, que era posta frente a uma grande mesa. Atrás dela havia um gavião, dois enormes morcegos e um corvo, empoleirados como se fossem eternos vigias do salão. Jadis mandou que o anão se aproximasse da mesa.
- Preciso que você faça um trabalho. Vai servir para provar sua lealdade para comigo. Sendo bem sucedido, estará entre os meus. Mas se não fizer o que for preciso, não precisa nem voltar.
- Posso perg...
- Não terminei ainda. – interrompeu a Feiticeira olhando friamente para os olhos do anão. – Você só está aqui porque vem de Nárnia. E é em Nárnia que vai executar o que vou lhe dizer.
A Feiticeira contou em detalhes o que o anão precisaria fazer. E também lhe deu duas coisas: Um frasco com um líquido vermelho e um pó para ser usado caso necessário, explicando o uso deles detalhadamente. Assim que Jadis terminou de dar as ordens, Gunnar partiu direto para Nárnia. Mas a Feiticeira precisava ter certeza da lealdade do anão. Mandou que seu corvo o seguisse para observar os passos dele, e voltasse quando tivesse os resultados. O anão não gostou do caminho que teve que tomar para voltar ao reino, de andar pela floresta novamente, mas sabia que era preciso para ser aceito ao lado da Feiticeira. Levou alguns dias, mas enfim já estava de volta em Nárnia e já estava chegando onde precisava estar.
Lufânia, uma coruja valente, estava no alto de uma árvore tendo uma conversa agradável com um pardal amigo. Mas a conversa não atrapalhava sua “vigia”. Tanto que avistou ao longe, próximo ao Ermo do Lampião, o anão que ela conhecia bem, pois eram bons amigos antes do desaparecimento deste. Achava estranho Gunnar aparecer de repente e falou ao pardal:
- Nutis, está vendo aquele anão? É o Gunnar.
- Anão? Onde?
- Na direção do Lampião. – disse Lufânia, apontando para o Ermo do Lampião.
- Estou sim. Tem certeza que é Gunnar? Está sumido há muito tempo...
- Tenho sim. Faça-me um favor. Voe até o pai dele e diga para vir pra cá. Estou tendo um estranho pressentimento.
O pardal conhecia bem aquela coruja, e não disse mais nada. Apenas se lançou ao ar para ir atrás de Graarnes, pai de Gunnar, ao mesmo tempo em que Lufânia alçou vôo em direção àquele anão para então saber o motivo da visita inesperada, e ganhar tempo até que o velho anão chegasse.
- Gunnar, que surpresa. – disse a coruja, que estava mesmo contente por rever um amigo. - É bom te ver de novo.
O anão nada lhe respondeu. Continuou seu caminho tentando não dar atenção à coruja e passou por ela sem olhá-la.
- Você nos deixou preocupados. Seu pai mandou muitos amigos à sua procura.
- Não quero saber de meu pai. Estou bem sem ele. – disse de modo ríspido a ela, mas sem parar de caminhar e sendo seguido pela coruja.
- Mas então não voltou pra ficar? Esperávamos muito sua volta. Todos nós gostamos de você.
O anão logo percebeu que a coruja não o deixaria em paz. Ela seria realmente um empecilho para o que iria fazer. Tratou logo de colocar a mão na sua bolsa e, sem que a coruja percebesse, pegou um pouco do pó que a Feiticeira lhe deu. Devagar, foi se virando na direção de Lufânia e disse de forma sarcástica.
- Também gostei muito de te ver. Mas eu preciso fazer isto. Boa noite. – ao dizer essas palavras, o anão levantou sua mão com a palma cheia daquele pó e o soprou no rosto da coruja, fazendo com que ela tivesse uma leve tontura e, andando para trás, tentando segurar em algo, acabou caindo no chão, num profundo sono.
Por sorte, o pardal encontrou Graarnes perto de onde estavam. Avisou-o sobre o reaparecimento de Gunnar, e este ficou num misto de alegria e perplexidade ao saber. Deixou no chão as ferramentas que carregava e tratou de correr ao encontro do outro. O velho anão, que chegou bem na hora de ver a coruja caindo, se surpreendeu ao ver o filho há tanto tempo sumido. Pensou logo que Gunnar havia feito algo com Lufânia.
- Gunnar! O que aconteceu com Lufânia? – olhando para a coruja, depois voltou a olhar o filho. - E onde você esteve? Estávamos preocupados. – o velho anão tentava obter a atenção do filho, que olhou um pouco para ele e voltou a caminhar em direção à árvore que protegia o reino.
- Porque está tão preocupado? Sua vidinha parece ser mais importante.
- Não diga isso, Gunnar. Sabe que amamos você. O que pode haver de errado em nós para que não goste?
- Você nunca entenderia. Estou certo que Nárnia precisa de umas mudanças. – falando isso, pegou o frasco que guardava na bolsa.
- Ora, meu filho. Do que está falando? Estamos vivendo nossa melhor época. A Rainha é boa conosco, sempre vivemos assim. Nossa vida sempre foi boa para nós.
Nesse momento já estavam próximos o suficiente para Gunnar executar o plano a que estava disposto, e olhando fixamente em direção ao seu alvo, disse ao velho pai.
- Pois é isso mesmo que precisa mudar. A nossa vida... – dizendo isto, Gunnar jogou o frasco, fazendo-o voar em direção à árvore, cuja trajetória foi acompanhada pelos olhos incrédulos de Graarnes, alguns pássaros e um fauno que caminhava próximo e acabou por acompanhar o final da conversa dos dois anões. Uma outra árvore, que também sentiu o frasco ser jogado, levou seus galhos ao encontro deste, na tentativa de desviar seu trajeto, ou até mesmo de impedir que este atingisse a árvore mais importante do local. Mas foi em vão. O frasco atingiu o tronco corpudo daquela árvore quebrando-se e o líquido que estava dentro tomava conta dela. Um grande urro - que mais parecia um trovão – foi ouvido e sentido à quilômetros de distância, que fizeram os dois anões, e quem estava perto, taparem os ouvidos. Depois disso, o velho anão se deu conta do que aconteceu, pegou Gunnar pelos braços e bradou:
- O que você fez?
- Algo que vai mudar nossas vidas para sempre! – respondeu Gunnar, no momento em que um espetáculo terrível chamou a atenção dos dois, e de todos que estavam à volta.
A árvore se retorcia incrivelmente. Seus galhos estavam perdendo forças e suas folhas não estavam mais luzindo como prata e caiam freneticamente. Um estranho barulho, que parecia gritos de lamento, estava saindo dela. No ponto onde o frasco se partiu, uma cor negra-acinzentada estava tomando conta do lugar e se espalhava pelo restante do tronco. Logo a árvore estava virando cinza, como se estivesse toda queimada, mas sem que nenhuma labareda a tocasse. Era estranho para aqueles narnianos acompanharem aquilo tudo sem poder fazer nada, por que todo o processo foi muito rápido. Tão rápido quanto Gunnar que se soltou das mãos de seu pai e pôs-se a correr para longe dali. Mas antes que sumisse das vistas de quem estava no local, disse vivamente:
- Preparem-se todos. A Feiticeira Branca está vindo para Nárnia. – e voltou a correr em direção que ninguém imaginava onde fosse. Alguns narnianos que ali chegaram e entenderam a situação tentaram correr atrás de Gunnar, mas foram impedidos com o grito de Graarnes.
- Não... Deixem ir. Temos uma situação mais grave conosco. – o velho anão entendia bem o problema, pois entendera as palavras do filho. Virou-se para a árvore que já estava toda decomposta e em cinzas, e pôde ver que Lufânia já estava acordada e, no meio do que restou das folhas, chorava copiosamente a perda da protetora, sendo acompanhada pelos pássaros que tinham visto tudo. Num sobressalto, gritou a todos que estavam presentes.
- Precisamos avisar a todos. Alguém leve a noticia até Cair Paravel. – depois correu em direção à coruja disse para ela: - Lufânia, precisamos de você. Vá até o vale dos centauros e avise ao Nedamus sobre a árvore. Ele vai saber o que fazer.
Lufânia entendeu a urgência do pedido, mas não se sentia bem para a empreitada. Tentou dizer que não conseguiria, mas alguns rouxinóis, pardais e outros pombos repetiam para ela:
- Nós vamos com você Lufânia. Vamos voar ao seu lado. – enfim, a coruja concordou, engoliu a tristeza e pôs-se a voar na companhia daqueles pássaros para avisar os centauros. Graarnes, que acompanhou com os olhos o vôo daqueles pássaros, voltou a olhar em volta a procura de alguma ajuda. Encontrou alguns esquilos que olhavam perplexos o que restava daquela majestosa árvore – era justamente deles que precisava.
- Queridos esquilos. Ajudem-nos. Avisem a todos os narnianos que precisamos nos reunir aqui mesmo. Se é verdade o que dizem sobre a Feiticeira Branca, estamos perto de grande perigo. – os esquilos assentiram com a cabeça e cada um começou a correr para um lado.
O corvo que a Feiticeira mandou para vigiar Gunnar estava satisfeito. Assistira tudo com atenção e já tinha informações suficientes para Jadis. Voou de volta para Harfang tão rápido quanto fosse necessário, porque sabia que a Feiticeira tinha planos para o anão e para Nárnia.
Dias depois, Gunnar voltava para a cidade dos gigantes. Logo que chegou, foi mandado para encontrar-se com a Feiticeira em um outro local. O minotauro Otmin o acompanhou até uma sala estranha. O anão viu a Jadis ao lado de uma grande estátua, e ao lado desta, uma pequena mesa de pedra onde havia um machado de guerra. Nervosamente sorriu para a mulher que se encontrava com seu ar superior de sempre.
- Minha Rainha. – Gunnar resolvera tratar a Feiticeira como os outros animais a tratava. – Suas ordens foram cumpridas.
- Já estou sabendo. Fez um bom trabalho. Aproxime-se e estenda sua mão sobre essa mesa, com a palma para cima. – sem entender porque, Gunnar colocou sua mão ao lado do machado sobre a mesa, mas não notou que nesse momento as unhas da Feiticeira estavam crescendo como pequenas pontas de lança.
- Quero que você se lembre de que agora você me pertence. Você dará início a uma nova raça de anões. Os anões negros... – ao dizer isto, levantou sua mão, juntou seus dedos e cravou-os na palma do anão, que soltou um grito abafado e sentiu algo percorrer pelo seu corpo, fazendo seus olhos mostrarem um brilho negro por um instante e seus cabelos escurecerem um pouco. Logo a Feiticeira soltou a mão de Gunnar e disse para ele:
- Esteja preparado. Você será meu segundo olho. Onde eu for você irá. Este machado é para você. Na guerra, será sua arma. – Gunnar olhou o machado. Sua respiração ofegante não deixava contemplar aquele presente de forma adequada. A Feiticeira foi caminhando para a saída, e se dirigiu ao seu comandante.
- Comandante. Prepare todos. Vamos partir para Nárnia amanhã cedo. – o minotauro prestou mais uma reverência, mostrando assim que iria cumprir a ordem.
Agora Gunnar tomava dimensão da situação em que se metera. Não estava arrependido, mas não saberia se poderia continuar. Era tarde demais. Quando olhou novamente sua mão, não viu marcas nem cicatrizes. Era como se a Feiticeira nem o tivesse tocado. As marcas sumiram misteriosamente. E antes que Jadis saísse da sala, se virou novamente para o anão e disse-lhe:
- Outra coisa: De agora em diante, você se chamará Ginnarbrik. – e saiu, deixando os dois.
O nome que recebera da Feiticeira soou estranho para ele, mas não podia contrariá-la. Pensando no que acabou de lhe acontecer, o anão olhou novamente para a grande estátua que se postava à sua frente. Notou agora que era de um gigante que segurava uma grande clava em posição de ataque. Um pensamento lhe ocorreu e resolveu comentar com o minotauro.
- Essa estátua... É o que estou pensando? – perguntou mesmo sem saber se devia. A resposta de Otmin foi curta e direta.
- É o que se recebe quando se tenta trair nossa Rainha.

Capítulo 2: O Anão Insatisfeito





Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertencem ao grande C.S.Lewis.
Spoilers do livro "As Crônicas de Nárnia: O Sobrinho do Mago".
Agradeço a colaboração de um amigo - Salem - em uma dúvida que foi prontamente resolvida e vai dar mais uma força nessa história.




A Grande Profecia de Nárnia
Capítulo 2: O Anão Insatisfeito

Um jovem anão vagava pela floresta sem rumo certo, havia muito tempo. Dias, para ser mais exato. Esperava encontrar alguém ou alguma coisa que pudesse dar algum sentido à vida dele. Mas antes de saber sobre sua peregrinação e o futuro que lhe é reservado, vamos contar um pouco da história do anão que se chamava Gunnar.
Gunnar resolveu sair de Nárnia porque não se sentia mais daquele mundo - coisa que ninguém compreendeu porque, já que todos gostavam muito dele. Mas ele se sentia incomodado com o fato de os anões trabalharem tanto. Ao ver dele, trabalhavam mais do que todos.
- Bobagem – Disse seu pai, quando Gunnar foi lhe falar. – Todos trabalham nesta terra. Venha, vou lhe mostrar uma coisa.
Os dois subiram em um pequeno morro, e avistaram o principal orgulho dos narnianos.
- O que vê alem daqueles montes? – Apontou para uma torre que se erguia ao longe.
- É uma das torres de Cair Paravel.
- Pois é isso mesmo. Fique você sabendo que todos trabalharam na construção dele. Tanto os anões, como os faunos, os centauros, os texugos, os ursos, os felinos, os cães, os cavalos... Todos, exatamente todos que poderiam ajudar, ajudaram a erguer o orgulho de Nárnia. Portanto, posso lhe garantir que em Nárnia, todos trabalhamos igualmente. Não é só os anões. Nós, os anões, trabalhamos com gosto. E é porque gostamos tanto que fazemos tudo bem feito. Você deveria se sentir orgulhoso por seu povo.
Mas Gunnar não se satisfez. Não compreendeu aquelas palavras do seu velho pai. Mas o que aconteceu de pior para ele foi quando os anões foram chamados para reformar o navio da Rainha Cisne Branco, que iria fazer uma viagem para as Ilhas Solitárias. Gunnar estava entre os encarregados de montar os andaimes para o pessoal que precisava pintar o navio. Mas por um descuido seu, uma das pernas do andaime ficou frouxa e, com toda a agitação, acabou se partindo e fazendo com que todos caíssem. Sorte que ninguém se machucou – procuravam encarar como uma grande brincadeira. A não ser Gunnar que se viu numa situação embaraçosa. Ficaram sabendo que ele era o responsável e apenas zombaram dele. Mas aquilo foi muito vergonhoso para Gunnar e por essa razão, decidiu sair às escondidas naquela mesma noite, sem rumo certo, sem pensar em mais ninguém.
Só que depois de tanto caminhar, de tanto refletir sobre sua vida, o anão parou para descansar e comer alguns frutos colhidos das árvores por onde passava. Não queria admitir, mas a essa altura estava perdido. Não conhecia aquela parte da floresta e, por isso mesmo, acreditava que não estivesse mais em Nárnia. No auge do seu descanso, ouviu passos vindos em sua direção e pensou logo que fosse perigoso ficar ali. Os passos vinham lentos como se fossem de alguém armando uma emboscada. Gunnar subiu numa árvore alta perto de onde estava e lá de cima teve uma surpresa espantosa.
Quem apareceu foi a Feiticeira Branca. Trazia consigo um presente dos bruxos com quem esteve reunida: uma varinha adornada de belos cristais. Do alto da árvore, Gunnar observava com admiração aquela mulher de uma beleza única, mas que se mostrava tão branca, tão clara como a neve. Logo estaria imaginando se ela fosse mesmo a Feiticeira que tanto ouviu histórias.
- Ela é exatamente como dizem. – pensou Gunnar, enquanto admirava a Feiticeira.
A confirmação veio numa atitude da mulher que olhava os arredores como se estivesse procurando por algo perdido. Encontrou alguns ratos escondidos próximo a um agrupamento de pedras e antes que todos pudessem fugir, Jádis levou sua varinha ao encontro dos mais próximos, fazendo com que um facho de luz aparecesse e no lugar dele, os ratos que sobraram fossem transformados em pequeninas estátuas de pedra. Por fim, ela olhou sua varinha de forma vitoriosa e deu um largo sorriso, imaginando tudo que conquistaria fazendo uso daquele instrumento.
Enquanto isso, o anão, que estava tremendo - ou por ansiedade ou por medo, tentava acreditar naquilo que seus olhos tinham visto. No entanto, acabou por se descuidar e pisou em falso em um galho, fazendo com que caísse próximo à Feiticeira. A queda do anão chamou a atenção de Jádis, que se virou sobressaltada para ver o que estava acontecendo.
- O que está havendo? Quem está aí? – Perguntou ela, mostrando superioridade e já colocando sua varinha em prontidão. Gunnar viu que não tinha outro jeito senão se apresentar. Qualquer movimento em falso e poderia ser transformado em pedra, tal qual aqueles pobres ratinhos.
- Por favor, não me mate. Sou eu, Gunnar. Sou apenas um anão vagando pela floresta.
- Um anão. De onde você vem, anão? – Perguntou a Feiticeira, mesmo já desconfiando da resposta, pois havia reconhecido as roupas que o anão estava usando.
- De Nárnia, Real Senhora. Saí de Nárnia há vários dias e estou sozinho. – Gunnar nunca soube porque disse isto. Que adiantaria aquela mulher saber se ele estaria sozinho ou não? Com o poder que ela demonstra ter nas mãos, certamente derrotaria um exército. Mas só quem conhece a Feiticeira Branca sabe o quanto os olhos dela brilharam ao ter certeza que o anão que se encontrava em sua frente era de Nárnia.
- E porque não está junto dos seus?
- Porque eu não consigo... – não gostou do que disse, e logo emendou – Porque eu sinto que posso fazer algo mais importante do que apenas trabalhar em minas ou entalhar madeira ou ficar fundindo metais. - A Feiticeira logo compreendeu onde o anão queria chegar. Tanto que resolveu testá-lo.
- Como o quê, por exemplo?
- Posso servir a tão majestosa Feiticeira Jádis.
- Como sabe quem eu sou? Por acaso já me apresentei a você? – perguntou a mulher, se aproximando do anão, que se afastou receoso e acabou por tropeçar em um galho.
- Não, Real Senhora. São as histórias que chegam até nós. Seus feitos têm sido espalhados por todos os cantos. – mentiu o anão, como se fosse a coisa mais importante a dizer para salvar sua pele. Jádis, que não ficou muito contente com a resposta, balançou sua varinha na direção do anão, fazendo o sangue deste ferver.
- E porque acha que eu preciso de você? Acha que pode ser útil para mim?
- Senhora, não sou ninguém importante. Apenas quero lhe servir no que for capaz.
Jadis sentiu que aquele anão seria importante para o que estava se passando por sua mente naquele instante. Mas achou melhor testá-lo mais um pouco.
- Não... Vá pra casa. Você não serve para estar junto dos meus. – disse isso, se virando como se estivesse indo embora e deixando o anão sem ter o que fazer. Mas de súbito ela ouviu uma coisa muito esclarecedora.
- Eu sei porque a Senhora não pode ir para Nárnia. É por causa da árvore. – gritou Gunnar. Ao ouvir essas palavras do anão, a Feiticeira levantou o olhar e, sem se virar para ele, perguntou:
- Uma árvore? De que tipo?
- Uma árvore que nasceu do fruto trazido dos confins do mundo. Uma que foi plantada por um Filho de Adão logo no nascimento de Nárnia.
Toda uma lembrança veio à tona na cabeça de Jádis. A lembrança dos primeiros dias em que pisou naquela terra. Só agora ela entendia o porque que não conseguia entrar em Nárnia. Virando de novo para o anão, ela perguntou:
- E você? Já viu essa árvore?
- Sim, Senhora. Todos os narnianos ajudam a cuidar dela. Talvez por isso ela esteja sempre florida, sempre forte. Ninguém sabe o que são feitos dos frutos dela. Sabemos apenas que são levados para Cair Paravel, o castelo.
Jádis estava satisfeita. Porque viu nos olhos do anão que ele era avesso àquele mundo, sentiu que pudesse usar da lealdade de Gunnar e também sentiu que este seria o primeiro passo para a conquista de Nárnia.
- Pois bem, acho que você pode vir comigo. Vamos ver do que você realmente é capaz.
Ao dizer isto, ela se virou para ir embora e o anão tinha entendido que estava aceito. Foi logo atrás dela, mesmo sem saber para onde iriam, porque achava que havia chegado a hora de mostrar seu valor. No caminho, o anão foi contando tudo o que sabia sobre Nárnia, fazendo com que a Feiticeira já estivesse montando todo o esquema que seria preciso para regressar àquele reino.

Capítulo 1: Jadis e a Árvore de Nárnia





Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.
Spoilers do livro "As Crônicas de Nárnia: O sobrinho do Mago"



A Grande Profecia de Nárnia
Capítulo 1: Jadis e a Árvore de Nárnia


Quando foi criada, Nárnia ganhou uma árvore que seria sua proteção quanto a qualquer investida da Feiticeira Branca, cuja maldade não conhecia limites. Sabedor disso, Aslam havia dito que enquanto essa árvore se encontrasse de pé, a Feiticeira não conseguiria chegar perto de Nárnia. Jádis, que já estava longe, ao norte de Nárnia, permaneceu lá por muito tempo e até saber da existência dessa árvore não conseguia entender a razão porque não podia rumar para o sul. Toda a vez que tentava adentrar Nárnia, um sentimento de desespero tomava conta dela como se estivesse diante de uma ameaça mortal. Pensava ela que aquilo era de fato um encanto realmente poderoso, que só o Grande Leão poderia ter feito. No norte havia alguns gigantes que ela conseguiu dominar e estes foram seus primeiros súditos. Ela sempre usou qualquer tipo de feitiçaria para se impor, e com os gigantes, que se mostravam intelectualmente inferiores a ela, não seria diferente. Mas além dos gigantes, Jádis conquistou para si a lealdade de outros animais que viam nela a expressão de poder jamais visto por eles. Estes se encarregavam em tudo o que a Feiticeira necessitava.
Nárnia virou uma obsessão para Jádis. A cada dia no exílio ela incutia a si o desejo de fazer parte daquele mundo e reinar de maneira absoluta entre seus habitantes. Dominar os gigantes do norte não seria suficiente. Mas para isso percebeu que precisaria antes se fortalecer. Precisaria aprimorar seus encantos e feitiçarias e procurar aprender outras novas. Precisaria ainda descobrir o que havia de tão poderoso que a impedia de entrar em Nárnia. Não poderia enviar alguns gigantes receando que estes a denunciaria, ou não fizesse bem o trabalho, ou talvez nem retornassem. Também não se sentia muito confiante para mandar um minotauro, ou um javali que fosse afim de espionar aquelas árvores fantásticas. Contudo, ela estava certa que logo haveria um plano, ou então alguma grande oportunidade de realizar o que tanto queria.
Enquanto isso, a árvore que protegia Nárnia era a que estava sendo mais protegida por todos. Os narnianos faziam idéia de que se aquela feiticeira aparecesse, boa coisa não seria para ninguém. Até as outras árvores se encarregavam nos cuidados para com esta que era especial. Havia quem viesse de longe só para ver se ela ainda estava de pé e florindo. Os faunos e as dríades faziam festa em torno desta. Todos os reis e rainhas que passaram por Nárnia, até então, a reverenciavam, e sua história era repetida por todos os anos como a mais fantástica das histórias de Nárnia. Saber que fora plantada por um Filho de Adão era motivo de grande orgulho para os narnianos.
Nessa época, havia uma coruja, chamada Lufânia, que se sentia uma verdadeira sentinela dessa árvore. Apesar de um pouco vesga, não perdia um só movimento de quem quisesse se aproximar de sua protegida. Além de que não era a única, mas era realmente uma das mais dedicadas. Por vezes apareciam os anões a limpar os arredores da árvore, e os esquilos limpando suas folhas sedosas, enquanto que Lufânia se mantinha alerta, como se houvesse sempre um inimigo disposto a atacar a árvore.
Essa árvore representava muito para Nárnia. Todo o povo e os animais sabiam disso e se sentiam felizes. Tanto que não imaginavam mais sua vida sem aquela protetora. Estavam simplesmente obedecendo às palavras de Aslam quando disse a todos que cuidassem dela.
Mal sabiam eles que a Feiticeira havia seguido rumo a algumas cavernas sombrias, onde certamente encontraria alguém para aprimorar suas feitiçarias. Passara um bom tempo lá, na companhia de bruxos e bruxas da pior espécie e saiu de lá com um presente que já saberia onde este seria mais útil. Só que no caminho de volta ao exílio, ela encontraria alguém com quem pudesse confiar, e esse alguém seria seu mais fiel seguidor.

Primeirão aí...

Inventei de fazer este blog para postar uma fanfic que escrevi sobre Nárnia. São muitas as razões que me levaram a fazer isso: Primeiro, o universo criado por C.S.Lewis é fantástico e, apesar de ele ter dado um fim na história no livro "As Crônicas de Nárnia: A Última Batalha", me deixou com aquele gostinho de quero mais, muito mais. Segundo, porque gostaria de dedicar esta fic a todos os dezenove mil, seicentos e setenta membros, até o momento, da comunidade "As Crônicas de Nárnia" do Orkut. Terceiro: Escrever esta fic foi mais que um trabalho de fã. Foi um desafio particular meu porque não achava que iria conseguir escrever uma história utilizando até elementos com certa complexidade. Resolvi escrevê-la pouco tempo depois de ter descoberto o site Nyah Fanfiction e nele encontrei, e continuo encontrando, diversos talentos para histórias. A história já está completa no Nyah. Aqui vou colocar à medida que as ilustrações dos capítulos estiverem prontos.

Para quem não sabe, Fanfic é a abreviação do termo em inglês fan fiction, ou seja, "ficção criada por fãs". Trata-se de contos ou romances escritos por terceiros, não fazendo parte do enredo oficial do livro, filme ou história em quadrinhos a que faz referência. (Wikipédia) Embora alguns digam que fere a ideologia de "direitos autorais", não penso por este lado, porque como diz na definição: "criada por fãs". Logo, quem escreveu não terá ganhos, financeiros ou de outra forma, com a história. Também acho que é um ótimo meio de se elevar culturalmente a Literatura (no caso de fanfics de livros) entre as pessoas.

A fic que escrevi chama-se "A Grande Profecia de Nárnia" e é composta de nove capítulos que se seguem abaixo:
Capítulo 1: Jadis e a Árvore de Nárnia
Capítulo 2: O Anão Insatisfeito
Capítulo 3: A Prova de Gunnar
Capítulo 4: As Reuniões
Capítulo 5: O Mistério da Rainha
Capítulo 6: Levante Narniano
Capítulo 7: A Batalha das Pedras
Capítulo 8: O Segredo que Guarda o Castelo
Capítulo Final: A Tristeza do Centauro

Neste momento, trago os três primeiros e, como foi dito, os outros virão quando tiver terminado as ilustrações - o que é outro desafio porque eu sou péééééééssimo em desenho e estou apanhando muito no meu pc para fazê-los. Mas tudo bem. Trabalho de fã é assim mesmo. Espero que gostem.

Por Nárnia e por Aslam!!