sexta-feira, 10 de junho de 2011

Terminando! ;)

Pois é. Esse é o último capítulo desta estória para qual dediquei esse blog. Gostei tanto, foi uma experiência engrandecedora, escrever esta fic. Me senti realmente como alguém de Nárnia, um fruto da imaginação de Lewis. Tive sensações maravilhosas com ela. Ri, chorei, fiquei apreensivo. Senti muitas coisas imaginando e escrevendo. Acho que quem acompanhou a história, pode imaginar. Espero que tenham realmente gostado. Escrevi esse último capítulo logo depois de escrever o primeiro, porque já estava com 78,97% da história na cabeça. Só faltava mesmo colocar no computador. Foi muito bom. Agora, vou dar mais atenção para outras fics que posto no Nyah Fanfiction: A Face do Fauno, que está mesmo precisando de atenção, continuar a escrita de Hermione Granger: Reencontrando os Pais e pensar em outras que ainda quero escrever.

(Adaptei do que escrevi no Nyah.)

Capítulo Final: A Tristeza do Centauro


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.


Óruns galopou por horas, mesmo anoitecendo, sem parar. Desesperado, aflito e confuso, corria como se não tivesse rumo certo, como se quisesse esquecer todos os acontecimentos recentes, todas as coisas que mudaram no reino. Sentia medo. Não só por si próprio, mas pelo futuro de Nárnia e por seus amigos que ainda viveriam todas aquelas ameaças da Feiticeira que se realizariam por anos. Por fim chegou. Havia cavalgado até a Mesa de Pedra, que era um dos lugares mais importantes e sagrados para os narnianos, onde a neve ainda não havia alcançado. Lá chegando, com a tristeza que o inundava, o centauro não conseguiu conter o que sentia no peito. Dobrou suas patas de cavalo, fazendo seu grande corpo cair no chão, e se abaixou de modo que seu rosto se encostasse à relva. Com isso, não conteve seu pranto. Chorava com toda a força que havia em seu peito. Até que sentiu que alguém lhe tocara os cabelos. Alguém não, algum animal, pois no mesmo momento em que reconheceu uma pata peluda e macia, ouviu uma voz que invadia seus ouvidos como se fosse a mais agradável das canções.

- Levante-se, Óruns, meu filho. – disse o Leão ao lado do grande centauro, que o reconheceu mas, sem saber o que pensar, tentou pronunciar com força enquanto tentava se levantar.

- Senhor, não tenho ânimo para nada. Perdi amigos e o mundo que tanto amo está prestes a ser destruído.

- Eu sei meu filho. Estou a par de tudo que acontece. – disse Aslam, resignado.

- Mas senhor, como salvar essa terra? Como poderemos nos livrar dessa Feiticeira que nos trará a ruína? Pode o senhor nos ajudar?

Aslam sentiu na voz do centauro uma fina esperança, que talvez qualquer coisa que lhe falasse seria mais forte que a Feiticeira, mas no momento não poderia fazer muita coisa.

- Não, meu filho. Não posso. O que eu poderia ter feito por Nárnia, até agora, já fiz. Mas houve quem consentisse que a Feiticeira aparecesse. Estou muito orgulhoso pela coragem de meu povo, desta terra, mas também não posso fazer nada quanto à Feiticeira, ainda. – dizia Aslam, olhando diretamente para os olhos de Óruns. - Mas isso já está sendo providenciado. No momento em que nós estamos conversando, nasce uma ponta de esperança que vai trazer a nossa Nárnia de volta. Mas por agora, peço que olhe as estrelas e diga o que vê.

O centauro pôs-se de pé, imponente como deveria ser, e se colocou a olhar as estrelas que apareciam como se estivessem encantadas no céu. Com um rosto de incredulidade, disse:

- Senhor, estou confuso. Não entendo.

- Preste bem atenção, meu filho. As estrelas nunca se enganam.

- Estou vendo Tarva, o senhor da vitória, sendo seguido por quatro estrelas que não reconheço, a maior delas está mais próxima. E se estou certo, são quatro pessoas... Seriam...

- Dois Filhos de Adão e duas Filhas de Eva. Sim, meu querido Óruns. É exatamente isso que vê. – interrompeu Aslam, acenando a cabeça positivamente.

- Senhor, como posso acreditar nisso depois do que aconteceu a nós nesses últimos dias? - perguntou o centauro, ressentido.

- Confie nas estrelas, pois isso é o que os centauros fazem melhor. - respondeu Aslam, levantando-se solenemente e continuou. - E agora eu lhe digo: Vá e espalhe essa profecia. De que haverá o dia em que dois Filhos de Adão e duas Filhas de Eva chegarão a Nárnia e irão restaurar a ordem das coisas. Serão reis e rainhas em Cair Paravel e será uma das melhores e pacíficas épocas que Nárnia viverá. Serão lembrados por muitos séculos, pois os feitos deles serão grandiosos. Porque tudo isso eu vou tratar de deixar pronto, mas no tempo certo. Peço a você que confie, pois vou esperar seus filhos para nos ajudar na libertação de Nárnia.

O grande centauro entendeu as palavras que ouviu. Lembrou-se daquilo que seu mestre, Nedamus, dissera uma certa vez, que ele teria uma missão importante. Logo deu um suspiro profundo e, de cabeça erguida, agradeceu por estar ali na presença do Grande Leão e se foi embora, mais confiante, deixando Aslam contemplando as estrelas que reluziam, apesar de haver uma breve fumaça no ar.

Mas vocês devem ter notado as palavras de Aslam dizendo “Mas isso já está sendo providenciado...”, pois no momento em que pronunciava essas palavras, bem distante dali, pra dizer a verdade, no nosso mundo, em Londres, o que restou de uma grande árvore estava sendo transformada em móvel. Parece ser simples, afinal era só uma árvore para que não conhece a história dela. Mas muitos não sabem o quanto essa árvore significou para um certo Filho de Adão. Pois quando esteve em Nárnia, trouxe para o nosso mundo o fruto daquela árvore que a Feiticeira mandou destruir, e usou as sementes desse fruto para plantar esta. Não queria dar outro fim ao tronco da árvore, por isso mandou fazer dela um enorme guarda-roupa. Só que, inconscientemente, o Professor Kirke, mais uma vez, estava ajudando àquela terra. Esse guarda-roupa será o responsável por guardar o portal por onde passará as quatro crianças que irão libertar Nárnia. Mas, a história de verdade, somente C.S.Lewis poderia contar melhor.

Capítulo 8: O Segredo que Guarda o Castelo


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.


O que mais agradava os habitantes de Nárnia era a magia que circundava o reino. Parecia até que não havia guerra naqueles dias e na maior parte permanecia uma paz sem igual. Os narnianos sabiam do que estava acontecendo e temiam que a Feiticeira terminasse vitoriosa. Mas confiavam no exército narniano e isso mantinha uma certa segurança nas outras partes de Nárnia.

E foi em um desses lugares que essa paz foi quebrada com dois gigantes carregando um centauro. Corriam para salvar a vida de Óruns, que era o pedido de Nedamus antes da batalha. Estavam a meio caminho da famosa Ponte de Pedra quando os dois não estavam mais aguentando correr, pois ambos estavam muito feridos. Entre os dois, havia o centauro ainda tentando acreditar no que aconteceu com seu mestre. Para ele não importava mais se os centauros eram fortes, as lágrimas caíam sem cerimônias. Lembrava dos ensinamentos de Nedamus, das palavras que disse sobre confiar na lealdade dos Filhos de Adão e do amor que os narnianos sentiam por Nárnia. A sabedoria de Nedamus sempre foi admirada por reis e rainhas que passaram por Cair Paravel e só agora Óruns percebera que nunca havia pensado no dia em que não tivesse mais o mestre ao seu lado.

Quando os gigantes sentiram que estavam mais seguros, resolveram parar porque não aguentavam mais – Óruns também notou isto. As flechas que os gnomos e sátiros acertaram neles estavam agravando os ferimentos.
- Desculpe amiguinho. - disse Griamones, enquanto colocava o centauro no chão. - Precisa continuar sem a gente.
- Vocês estão muito feridos. Vou tirar estas flechas.
- Não precisa. Podemos cuidar disso. - falou Runtamarco.
- Não há tempo a perder. Nedamus queria que salvássemos sua vida. Ele se sacrificou por isso. - voltou a falar Griamones, com a cabeça baixa. - Deve partir rápido e cuidar do seu destino.

Óruns engoliu em seco o que acabara de ouvir. Começava a entender o propósito do mestre e concordou que precisava ir embora.
- Como vocês ficarão? O que irão fazer agora?
- Primeiro vamos dar um jeito nas feridas e depois tentar encontrar os outros para voltar para Harfang. Sinto muito por não conseguirmos ajudar. Se haviam dúvidas que a Feiticeira derrotaria um exército, elas não existem mais - lamentou Runtamarco.
- Não tenho como agradecer o que fizeram por mim.
- Não agradeça. Apenas viva. - disse Griamones. E os três se despediram longa e demoradamente para que Óruns tomasse um caminho sem rumo. Até aquele momento não tinha idéia para onde iria e nem o que fazer. Os dois gigantes ficaram no mesmo lugar até que o centauro desaparecesse no meio da floresta.

Mais ao norte, no local da batalha, a neve começava a cair do céu e tomava conta do terreno e das árvores. Ainda havia poucos narnianos resistindo, mas a guerra já estava decidida e a Feiticeira Branca aparecia vitoriosa na frente do comandante Otmin. Atrás dela havia milhares de estátuas de pedra e muitos narnianos mantidos prisioneiros, sem contar as baixas. O minotauro se abaixou, prestando uma reverência que foi repetida pelos fiéis que estavam próximos.
- Minha rainha. Agora temos Nárnia. - disse Otmin.
- Isso mesmo. Contemplem todo meu esplendor. - disse Jadis, apontando para a vasta floresta que estava próxima. - Agora a rainha de Nárnia serei eu e todos irão me obedecer. Antes de mais nada, quero que eliminem todos os Filhos de Adão que encontrarem no reino. E que aqueles que não me tomarem por rainha, também sejam eliminados. Comandante, você sabe o que fazer.

O minotauro deu um mugido em comemoração à vitória, que foi ouvido à muita distância. Quando a Feiticeira notou que Ginnarbrik estava próximo, disse a ele:
- Ginnarbrik, você cuidará da construção do meu castelo. Essas estátuas serão meus troféus. Quero todas que estão inteiras guardadas em um grande salão. - Guinnarbrik prestou uma reverência, mostrando que compreendera as ordens de Jadis.

Algum tempo depois, em Cair Paravel, General Sperdan acordava sentindo muitas dores e tontura, notando que havia um grifo em pé e em frente de onde ele se deitava. Ainda não percebeu que tinha sido levado para o castelo e que estava nos seus aposentos.
- O que aconteceu? Onde estamos?
- Estamos em Cair Paravel, General. No seu quarto.
- Há quanto tempo fiquei desacordado?
- Um dia. Foi o tempo que levei pra trazê-lo até aqui.
- Na verdade, vocês chegaram há quase meia hora. - uma voz doce e gentil aparecia de repente. Sperdan não havia notado que sua mulher estava ao lado da cama, preparando curativos para os ferimentos dele.
- Ireva, que bom te ver. - o general tentou levantar, mas uma dor na perna não deixou que conseguisse. Sua mulher interveio.
- Não force. Também estou satisfeita em saber que você está vivo, mas precisamos cuidar desses ferimentos agora.

Resignado, o General desviou a vista para o lado do grifo e notou algo estranho do lado de fora da janela atrás dele.
- Mas o que é aquilo? - perguntou o General, apontando para o lado norte de Nárnia. A vista dos aposentos de Sperdan apontava justamente para a direção do campo onde a batalha ocorreu e dava pra ver claramente o que acontecia. - Neve? Mas não estamos na época...
- Não mesmo. Aquilo foi provocado pela Feiticeira. - interrompeu o grifo. - Pouco a pouco, está se espalhando pelo reino.
- Grifo, você está ferido. - disse Sperdan, notando os curativos que estavam no dorso do grifo.
- Eu estou bem. Essas feridas não são nada. As suas são muito mais graves.

De repente, a atenção dos três foi desviada para a porta que se abria desajeitadamente. Estavam entrando uma mulher para ajudar Ireva e três doninhas carregando uma bacia com água quente, quase derrubando.
- Ei, segura aí... - dizia uma delas.
- Calma. Isso tá quente. - retrucava a outra doninha.
- Me desculpe. - disse a ajudante – Eles insistiram em ajudar.
- Não tem problema. - respondeu Ireva com um sorriso simpático. - Podem colocar em cima do banquinho. Obrigada.
- Precisam de mais alguma coisa? - perguntou a terceira doninha depois que as três deixaram a bacia.
- Por enquanto é só. - disse Ireva. - Se precisarmos, vamos chamar. - e as três doninhas saíram do quarto prestando reverência para os quatro.

Enquanto as duas mulheres colocavam os curativos no General, Sperdan ficou conversando com o grifo para saber algumas informações.
- Grifo, qual o seu nome?
- Timerus, senhor.
- Deu para ver qual a situação do nosso exército?
- Não pude ver muita coisa, mas deu pra ver que a Feiticeira transformou muitos dos nossos em estátuas. - disse o grifo abaixando a cabeça.
- Você me trouxe para cá. Porque?
- Foi o Lorde Doran que me pediu isso. Disse que era um pedido da Rainha Cisne Branco.
- Porque ela iria pedir isso? - perguntou Ireva, mais para Sperdan do que para o grifo.
- Eu sei porque. - respondeu o General enigmaticamente. Ireva, que nunca precisou questionar os motivos do marido, viu que esta era mais uma situação que Sperdan considerava de suma importância para o reino.
- Ireva, precisa partir daqui. Reúna todos os narnianos que quiserem sair de Nárnia e também todos os Filhos de Adão e Filhas de Eva. Diga a todos que precisam sair do reino. Quem quiser, pode ir para a Arquelândia... - quando dizia isto, Sperdan se lembrou da tropa da Arquelândia que iria ajudar na batalha. - Timerus, você viu os soldados da Arquelândia?
- Sim, pude ver. Chegaram tarde demais. Alguns soldados ainda entraram na batalha, mas muitos fugiram ao ver o que a Feiticeira estava fazendo com os nossos.
- Não os culpo. Nós não esperávamos que a Feiticeira fizesse algo parecido. - disse Sperdan, voltando a atenção para sua esposa. - Tenho certeza que a Arquelândia não recusará exílio. Mas o melhor mesmo é que vão para as ilhas solitárias, ou algum lugar além de Galma. Creio que a Feiticeira não irá perseguir até lá. Quero que pegue nosso filho e vá para Terebínthia ou mais longe. Podem usar o Grande Luar.
- Mas e você, Sperdan? - perguntou Ireva.
- Eu devo ficar aqui. Só eu e a Rainha sabemos o que pode proteger Cair Paravel de alguma ação da Feiticeira.
- Ainda vou vê-lo novamente?

Sperdan não teve coragem de responder à pergunta de Ireva. Abaixou o olhar, denunciando a ela a temida resposta.
- Eu entendo. Há coisas muito importantes na vida. Alguém precisa cuidar do castelo. - disse Ireva, com os olhos vermelhos.

Horas mais tarde, o General se encontrava de pé na frente da porta dos aposentos da Rainha Cisne Branco. Com a ajuda do grifo, conseguiu chegar até lá para pegar uma chave. O castelo já estava vazio porque Ireva estava cuidando do que o marido pediu. Só havia os dois dentro de Cair Paravel.
- Vou sentir muita falta dela. - disse o grifo, olhando para os móveis que a Rainha utilizava.
- Eu também. Nunca esquecerei tudo que ela fez por mim. - dizia Sperdan, se digirindo a um pequeno armário onde abriu uma gaveta e tirou um pequenino baú. A chave que ele queria estava ali. Quando pegou o objeto, ele suspirou e, olhando para a chave, comentou com o grifo.
- Nunca havia pensado no dia que precisaria desta chave. - o grifo apenas observava Sperdan contemplando o objeto. Quando pegou a chave, ele disse ao grifo.
- Vamos, Timerus. Precisamos ir para os pavilhões abaixo do castelo.

E o grifo ajudou o General a caminhar pelos corredores e escadas de Cair Paravel. Ora iam em silêncio, ora falavam da Rainha Cisne Branco. Em alguns corredores mais estreitos, por causa do seu tamanho, o grifo acabava por esbarrar em uma ou outra coisa. Por fim chegaram aos pavilhões que haviam abaixo nas fundações do castelo. O grifo não imaginava o que havia naquele local.
- Minha nossa, nunca vim aqui. - observou Timerus, vendo a altura do pavilhão onde estavam.
- Quase ninguém veio. Era praticamente desconhecido. - respondeu Sperdan.

Chegaram na frente de uma porta que o General abriu mostrando a sala simples que apareceu. Um imponente e enorme baú de prata repousava no centro da sala e refletia as luzes que recebia das tochas que Sperdan e Timerus carregavam.
- Que baú lindo. – dizia o grifo, observando os detalhes em prata e a figura de Aslam na parte de cima do baú.
- É sim. - concordou Sperdan, com um sorriso tímido.

O grifo acompanhou o General até o baú, para que colocasse a chave que trazia na fechadura do grande objeto. Quando Sperdan abriu, Timerus se espantou a ver o conteúdo dele.
- Maçãs, senhor?
- Não, meu nobre Timerus. Parecem maçãs. Mas são os frutos daquela árvore que guardava o encantamento contra a Feiticeira. Por acaso notou algumas árvores diferentes ao redor do castelo?
- Não senhor. - respondeu o grifo.
- Imaginei. Agora você é o único em Nárnia, além de mim, que sabe disso. Existem árvores, filhas daquela que nos protegia, plantadas em um grande círculo ao redor de Cair Paravel. - dizia Sperdan quando algo que começou a acontecer com os frutos dentro do baú chamou a atenção do grifo.
- Elas estão sumindo...
- Estão se evaporando. - disse o General enquanto os frutos sumiam um a um. - Nesse momento estão se misturando ao ar que respiramos. Esses frutos agirão com as árvores formando uma espécie de bolha invisível que vai proteger nosso castelo de qualquer um que tentar fazer alguma coisa em nome da Feiticeira, e até dela própria. Com isso ela não vai poder fazer nada com esse castelo.
- Então Cair Paravel estará para sempre protegido?
- Infelizmente não. - respondia o General olhando para os olhos do grifo. - Esse encanto só irá durar enquanto a Feiticeira viver. Foi o que Aslam nos disse. Ele próprio trouxe este baú das terras do Imperador de Além-mar.
- Logo vi que uma prata dessas não poderia ser de Nárnia. - comentou o grifo.
- Exatamente. - concordou Sperdan e os dois continuaram a observar até que último fruto se evaporasse e o baú ficasse inteiramente vazio.
- Está feito. Agora é esperar que tudo dê certo. - resignou Sperdan, fechando o grande objeto.

Os dois deixaram a sala do baú em silêncio, pois a magia estava lançada. Mas eles agora tinham certeza que, qualquer que fosse o futuro do reino, o castelo haveria de se manter firme. A Feiticeira, mesmo que quisesse, não poderia fazer nada contra Cair Paravel.

Capítulo 7: A Batalha das Pedras


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.


Até mesmo aqueles que são acostumados a batalhas e guerras sabem que há sempre um clima de horror nelas. A idéia da guerra é sempre ruim, tanto para quem vê de fora, quanto para quem está no meio dos guerreiros. Mas em Nárnia chega a lembrar os tempos bárbaros de nosso mundo, onde tudo se resolvia com guerras entre nações. Sem contar que lá existem animais falantes e dotados de inteligência, assim como aos humanos. Era horrível saber que, entre aqueles que batalhariam contra os fiéis da Feiticeira, estavam centenas de ursos, macacos, rinocerontes, cavalos, texugos, toupeiras, javalis, tamanduás, leopardos, pássaros de várias espécies e tamanhos, castores, alces e tigres. Lembrando que havia ainda outros animais mitológicos, entre eles, fileiras de centauros, milhares de faunos correndo para o confronto e um bando enorme de grifos voando junto ao exército. Até parecia que todos os habitantes de Nárnia estavam ali. Boa parte da tropa corria como se não houvesse mais nada na vida. Mas enfim, tinham uma boa intenção. A única coisa que pensavam era em defender Nárnia.

Mas a Feiticeira olhava para os narnianos com muita serenidade. Parecia que ela estava somente aproveitando a brisa que lhe tocava o rosto, embora os olhos dela não desviassem a atenção para o que estava acontecendo. Aquela calma de Jadis estava incomodando os fiéis. Precisariam aguardar o sinal, mas a medida de que os narnianos avançavam, eles começavam a duvidar que ela se lembraria desse detalhe.

Foi quando a Feiticeira notou ao longe, bem atrás do exército narniano, sete árvores se movimentando. Não teve dúvidas, elas também entrariam na batalha. De súbito, a Feiticeira pegou uma tocha das mãos de um duende e a soprou fazendo com que se formasse uma enorme labareda em forma de linha na direção das árvores, passando por cima do exército que avançava. Os narnianos que avançavam se assustaram com que viram, mas continuaram o caminho. Três das árvores foram atingidas, espantando as outras que também se movimentavam. O restante da tropa, que aguardava para entrar na batalha, se manteve no lugar, embora todos estivessem também assustados. E com toda razão. Nunca haviam visto algo parecido em Nárnia. Realmente perceberam que a Feiticeira era mesmo poderosa.

Graarnes, que liderava os anões arqueiros, recebeu o sinal de um dos capitães do exército narniano para atacar. Um dos planos era aguardar que a primeira tropa narniana estivesse a meio caminho do confronto, quando os anões alvejariam os seguidores de Jadis com flechas.

- Arqueiros, preparem-se!

E os anões levantaram os arcos para o alto.

- Apontar... Atirem!

E Graarnes viu poucas flechas cruzarem o céu, certamente menos de um quarto das flechas que esperava. As que voaram atingiram poucos dos inimigos. Sem entender porque aconteceu, Graarnes se virou para o primeiro anão que viu que não havia atirado e perguntou raivoso.

- O que aconteceu? Porque não atiraram?

- Desculpe, Graarnes. Mas agora servimos à Feiticeira.

Graarnes não podia acreditar no tinha ouvido. Não era possível que aqueles anões tivessem se virado contra Nárnia. Os soldados que estavam próximos dos anões também não estavam acreditando. O sangue subiu à cabeça e o velho anão empunhou a espada que trazia na cintura e começou a atacar os traidores, gritando “TRAIDORES!!”. Mas logo foi atingido por três anões que estavam próximos e caiu. Os soldados também entenderam e começaram a atacar os anões que agora revidavam. Próximos também estavam aqueles lobos e cães que, por medo, passaram para o lado de Jadis e entraram na briga. A confusão estava formada. Era os que agora serviam à Feiticeira contra o restante do exército narniano. A coruja Lufânia, que estava distante no momento, assim que viu a confusão, voou para procurar por Graarnes e, quando encontrou, puxou-o para longe daquela briga, se esquivando daqueles que tentavam acertá-la. Quando estava mais segura, viu que o velho anão respirava com dificuldade, mas não sabia o que fazer numa situação dessas.

- Graarnes, aguente...

- Não... é tarde demais... Gu... Gunnar. Precisa... trazê-lo de volta. - disse o anão que logo depois fechou os olhos e pareceu apenas dormir. A coruja não pensou duas vezes. Encostou a cabeça de Graarnes no chão e saiu voando na direção dos fiéis da Feiticeira para procurar por Ginnarbrik, deixando de lado as emoções pela perda do amigo e o medo do que encontraria.

Aqueles que avançavam também tiveram uma desagradável surpresa. Quando estavam próximos, Jadis fez um movimento brusco com uma das mãos, como se estivesse jogando algo para longe, e no mesmo instante um forte vento atacou os narnianos. Não sabiam se era um redemoinho ou apenas uma grande ventania, devido a força do vento. O vento era tão forte que não havia como alguém se manter no chão, ainda menos correndo.

- Segurem-se uns nos outros! - gritou Óruns que rapidamente entendeu que era a melhor maneira de se manter no chão, o que foi entendido por quem estava próximo a ele e repetido por outros. Os grifos que voavam, agora com dificuldade, tentavam segurar quem era levado pelo vento.

Quando o vento cessou, alguns narnianos que estavam suspensos caíram bruscamente. Confuso, o General Sperdan olhou para trás, na direção do restante do exército e não pôde acreditar que havia uma luta entre aqueles.

- Mas... O quê? - disse Sperdan e Nedamus, Óruns, Lorde Doran e alguns narnianos olharam para a mesma direção do General e também não acreditaram no que viram.

Decidida, a Feiticeira se virou para o Comandante Otmin e sinalizou para o ataque. O minotauro deu seu mais alto mugido para que todos ouvissem. E assim se seguiu. Os fiéis que estavam próximos a Jadis correram com sede de luta para a frente dos narnianos, no mesmo momento que os gigantes que lutavam pela Feiticeira apareciam pelos lados. General Sperdan, que viu seu exército cercado, não teve opção a não ser ordenar o ataque.

- Atacar! - Gritou ele em uma fúria nunca vista antes e todos que estavam próximos começaram a lutar contra os fiéis da Feiticeira.

A batalha estava muito desigual. Os gigantes que estavam do lado narniano viram isso. Areone, que tentava ignorar a briga que ocorria com o exército narniano próximo, não esperou o sinal para que entrasse na batalha e gritou para os outros gigantes:

- É a nossa vez. Vamos! - e os outros gigantes foram atrás dele, saindo das árvores diretamente para onde a batalha principal ocorria. E muitos dos narnianos que estavam fora da briga os seguiram também. A Feiticeira, que não havia saído do lugar, não ficou surpresa com a entrada daqueles gigantes. De certa forma, já esperava por isso. Sabia que aqueles eram os revoltosos em Harfang. Mas procurou não ligar para este fato. Para ela, já era o momento de providenciar outra coisa.

- Está na hora. Vamos. - disse ela para Ginnarbrik, e ele a seguiu para uma parte mais afastada da floresta, acompanhado por mais três fiéis. Lufânia, que estava a uma certa distância de Jadis, chegou a tempo de ver Ginnarbrik e ir atrás deles, chamando alguns narnianos para acompanhá-la. A coruja logo entendeu que boa coisa não iria acontecer.

Alguns minutos depois, a Feiticeira já estava próxima de um lugar que julgava mais adequado dentro da floresta quando Lufânia e alguns narnianos estavam alcançando-na. A coruja não tinha plano algum, apenas queria o amigo de volta. Quando sentiu estar próxima o suficiente, fez a primeira coisa que veio à sua cabeça.

- Gunnar! - gritou a coruja para chamar a atenção do antigo amigo. Ginnarbrik se virou e viu que quem o chamava era Lufânia, que estava acompanhada de um urso, três faunos e duas panteras. Pensando no que fazer, o anão se virou para Jadis que, sem olhar para trás, já havia entendido o que estava acontecendo. E sem se virar para Ginnarbrik, ordenou:

- Impeça-os. - disse a Feiticeira e imediatamente, o anão e os fiéis que o acompanhava, deixaram Jadis cuidando do que precisava e correram para aqueles narnianos. Mas antes que qualquer dos lados atacasse, Lufânia tentou conversar com o anão.

- Gunnar, por favor. Deixe essa Feiticeira. Volte para nosso lado.

- É Ginnarbrik para você, sua coruja imbecil! - gritou o anão, mas essa resposta não causou medo em Lufânia, apenas um misto de pena e receio pelos modos diferentes que aquele anão mostrava. Quando ele disse isso, a coruja percebeu que já havia perdido o amigo. Seria difícil fazê-lo mudar de idéia. Uma raiva se apoderou da coruja, que viu que não haveria outra solução senão continuar lutando por Nárnia.

- Vamos... Ataquem! - ordenou o anão e começou-se uma outra luta. Ele correu direto para a coruja, que se esquivava dos golpes do machado do anão ao mesmo tempo que procurava acertá-lo com as garras.

Enquanto acontecia aquela luta, a Feiticeira colocava no chão uma espécie de cálice com um líquido estranho e borbulhante. Com um movimento de sua varinha, murmurou umas palavras estranhas fazendo que daquele cálice saísse uma coluna de luz que seguia para o céu. No alto, podia-se ver nuvens se aglutinando ao redor do ponto onde a luz chegava e ninguém próximo à Feiticeira parecia notar que havia um vento mais forte ou que o clima estava se tornando frio bruscamente.

Daquela luta, os narnianos estavam levando a melhor porque os fiéis da Feiticeira, apesar de se mostrarem mais fortes, estavam em menor número. O ogro lutava com o urso e os dois minotauros lutavam com os faunos e as panteras. Com um certo esforço, Ginnarbrik conseguiu atingir a coruja com o cabo do machado fazendo-a se desequilibrar e assim pôde agarrá-la pela garganta, mas antes que desferisse um golpe certeiro, Lufânia tentou mais uma vez convencer o anão.

- Gunnar... seu pai... - o anão parou um instante para saber o que a coruja falaria. - Ele queria que você voltasse para nós... Ele... Ele morreu há poucos minutos.

O que Lufânia falou não fez diferença na mente de Ginnarbrik. O anão apenas forçou a mão que segurava a coruja e, sem mudar a expressão no rosto, disse.

- Um a menos.

A coruja desistiu. Não havia como recuperar o amigo de tantas tardes agradáveis. Com certeza, aquele anão que lhe segurava não era mais esse amigo. O desagrado que ela sentiu porque Ginnarbrik não sentia mais nada pelo pai foi transformado em raiva que a fez levantar as garras e conseguir se soltar do anão ferindo o braço dele. De repente ela bateu as asas e foi pra cima do anão, para dar mais um golpe, mas algo aconteceu com ela.

Ginnarbrik viu apenas a Feiticeira chegando por trás da coruja e, com a varinha, fez com que ela se transformasse em pedra. Como Lufânia ainda estava no ar, caiu com toda força fazendo se quebrar. Jadis não esperou mais nada. Avançou para os outros narnianos e fez com que cada um virasse estátua. Até mesmo o urso, que tentou atingir a Feiticeira com uma lança. Jadis não deu tempo para que eles respirassem ou pensassem em algo. Logo, seguiu caminho para o local da batalha, chamando Ginnarbrik e os fiéis para a seguirem. Enquanto ela caminhava pela floresta, os ventos frios agitavam as árvores. Duas delas se arrastaram para ficar no caminho da Feiticeira. Os dois minotauros logo se colocaram a disposição para derrubá-las, mas Jadis interviu.

- Não! Deixem comigo. - sem perder tempo, a Feiticeira cravou a varinha na terra e provocou um grande tremor, que foi sentido até no campo de batalha, fazendo com que aquelas árvores fossem derrubadas. Com a passagem livre, Jadis continuou o caminho na companhia daqueles fiéis. Nenhuma outra árvore tentou fazer o mesmo.

No campo de batalha as coisas não estavam indo bem para os narnianos, mas eles resistiam bravamente. Um ou outro parava um rápido instante para tentar entender aquela estranha formação de nuvens que aparecia. Aquele vento gelado denunciava a Nedamus que havia algo de errado. Ninguém notou quando ele, depois de olhar para as nuvens, fez sinal pedindo para que dois gigantes ficassem sempre perto dele. Do outro lado, quando a Feiticeira chegou no local, notou que ainda havia muitos dos líderes narnianos de pé e lutando. Os fiéis ainda não conseguiram eliminá-los conforme as ordens dela. Mas ainda assim estava sendo muito difícil para os narnianos porque os seguidores da Feiticeira eram numerosos e bem armados.

A Feiticeira ficou um bom tempo avaliando aquela luta dos dois exércitos. Viu que havia mais de seus seguidores do que havia de soldados narnianos, mas logo entendeu que aquilo se arrastaria por horas e tomou a decisão fatal.

- Está na hora de acabar com isso. - disse a Feiticeira, aprontando a varinha para entrar na batalha. Ginnarbrik também entendeu e, junto com os dois minotauros e o ogro, foi para a luta.

Quase ninguém notaria se Jadis estivesse apenas atacando os narnianos como os seus seguidores faziam. Mas quando ela usou sua varinha para transformar o primeiro fauno que viu em pedra, o espanto tomou conta de quem estava perto dela. Mas os narnianos tinham coragem. Ao invés de fugirem, tentaram parar a Feiticeira. Ao ver que pelo menos quinze narnianos vinham em sua direção, Jadis pegou uma espada que estava fincada no chão e começou a golpear um por um, alternando com a varinha. Cada um deles virou estátua. A habilidade que a Feiticeira mostrava espantava até mesmo os fiéis que a conheciam há mais tempo. Mas apesar disso, os narnianos continuavam a atacá-la. Jadis apenas avançava e continuava a mostrar o poder da varinha. Em pouco tempo, haviam mais de duzentos narnianos em pedra, e em menos de uma hora já eram pelo menos setecentos. Quando ela viu que estava próxima de Otmin, resolveu dar mais uma ordem.

- Avancem sobre os líderes. Não deixem que eles se reagrupem. - com essa ordem, o minotauro deu mais um grande mugido, e conduziu os fiéis de forma que os narnianos cada vez mais se dispersassem, havendo mais ataques onde havia lideres narnianos, enquanto que Jadis continuava transformando-os em pedras.

General Sperdan até pensou em mandar todos recuarem, porque muitos estavam morrendo ou virando pedra e precisava ganhar tempo para um novo plano. Mas cinco de seus capitães o impediram, dando a entender que a última coisa que os soldados queriam era recuar. Pelo que Sperdan viu da garra dos narnianos na luta, não duvidou que fosse verdade. Quando ele eliminou mais um inimigo, outro capitão veio até ele.

- Senhor, seria melhor os arqueiros acertarem os gigantes dela!

- Não temos mais arqueiros. Veja. - apontou o General para o lado onde ainda havia uma luta entre os soldados narnianos e os anões traidores. Aquele capitão, que ainda não havia notado, ficou surpreso.

- Vamos ter que continuar sem os arqueiros! - completou o General, já correndo para atacar um minotauro que vinha na direção dele.

Nedamus estava com muito trabalho. Era o esforço em atacar os inimigos e ficar o tempo todo com a atenção voltada para Óruns. O sábio centauro sabia que algo iria acontecer com seu discípulo, tanto que procurava manter sempre uma posição próxima à ele. Óruns estava se saindo muito bem em combate, para um centauro que ainda não havia participado de uma batalha. Ele estava pouco ferido e mantinha o vigor e a determinação dos centauros. Quando Óruns menos esperava, se viu perto da Feiticeira Branca, que estava transformando em estátuas um grupo de touros com cabeça de homem. O centauro logo pensou que seria capaz de derrotar a Feiticeira. De repente, ele olhou para o outro lado e viu a expressão séria de seu mestre, olhando para ele. Os dois cruzaram os olhares como se comunicando numa língua que somente eles entendiam. Óruns balançou a cabeça, numa quase reverência, e este foi o momento que Nedamus percebeu o que seria feito. No instante que Óruns pôs-se a correr atrás de Jadis, Nedamus passou por cima de quem estivesse no caminho, chamando os gigantes.

- Griamones! Runtamarco! Agora... - os dois gigantes ouviram a voz do velho centauro, e correram atrás dele, como era o pedido.

O que aconteceu foi tão rápido, que não caberia colocar em palavras. Mas precisamos tentar: Nedamus corria ferozmente na direção de seu aprendiz. Ainda viu quando Óruns avançou sobre a Feiticeira e levantava a espada contra ela, mas foi impedido por um empurrão dele. Óruns caiu sem entender o que aconteceu e, quase ao mesmo tempo, os dois gigantes o levantaram, carregando-o para longe dali, sem ao menos importar o quanto era difícil e incômodo carregar alguém que era metade cavalo e metade homem. Quase não deu tempo de Óruns ver o que aconteceu nesse momento.

Depois de empurrar Óruns, Nedamus avançou sobre a Feiticeira, levantando as patas da frente e levando a enorme espada contra Jadis que, em um movimento mais rápido ainda, levou sua varinha contra o peito do centauro, transformando-o em mais uma estátua de pedra. Por causa da posição que tomou, o corpo do sábio centauro caiu, se partindo em vários pedaços.

- Nãaaaao! - gritava Óruns, que estava sendo levado pelos gigantes, ao ver o fim do mestre de tantos anos. Jadis olhou para o dois gigantes carregando Óruns e apontou para eles, indicando aos seus arqueiros o que deviam fazer. - eles tinham que abater os dois gigantes. Até tentaram, mas como eles corriam muito rápido, não conseguiram acertar o suficiente.

Enquanto corriam, os dois gigantes passavam por cima de todos que estavam na frente. Um dos atropelados foi um ciclope que lutava com um grifo, que de relance viu que aqueles gigantes carregavam Óruns. Mas ele não teve tempo de pensar em nada, porque de repente alguém segurou na sua pata traseira e, pensando que fosse algum inimigo, levou a lança que tinha nas mãos na direção do estranho, mas segurou porque quem o tocava era Lorde Doran, que estava caído e gravemente ferido.

- Senhor, vou tirá-lo daqui. - disse o grifo, recompondo-se do susto. Ofegando, Lorde Doran disse a ele.

- Não... Precisa levar o General... para o castelo... Era... um pedido... da Rainha... - e baixou a cabeça, não suportando mais a dor.

O grifo sentiu sua cabeça rodar. Se viu numa missão que parecia impossível de cumprir. Primeiro que era um último pedido de um Lorde a quem todos em Nárnia tinham grande apreço. Depois porque esse mesmo pedido era da Rainha que era a mais louvada no reino. E onde iria encontrar o General no meio daquela bagunça? Sem pensar muito, o grifo bateu suas asas e voou sem rumo, à procura de Sperdan. Tentando fugir das flechas, ainda viu a Feiticeira transformar outros narnianos em pedras – parecia que já eram a metade do exército. Voou algum tempo ainda, procurando, até que reconheceu o General no meio de sete minotauros que o golpeavam. Ele chegou no momento que Sperdan recebeu um golpe que o fez cair, e num voou rápido e rasteiro, conseguiu tirar o General do meio dos fiéis da Feiticeira. Por conta disso, foi atingido por flechas de uns gnomos próximos. Ignorando a dor, o grifo continuou seu vôo, levando o General já desmaiado, em direção a Cair Paravel.

Capítulo 6: Levante Narniano


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.
Eu não havia desistido desse blog. Me desculpem, por favor. Era pra eu continuar com as ilustrações mas não tive tempo mais. Vou terminar de postar e, quando puder, depois farei o restante dos desenhos. ;)


Que a Feiticeira Branca era bela, ninguém duvidava disso. Nem mesmo aqueles que há muito tempo a seguiam e não tinham visto muitas mulheres para comparar. Seu corpo alto e esguio tinha contornos suaves que fariam outras mulheres tremerem de inveja. Mas a Feiticeira era tão bela quanto má - isso era outra coisa que ninguém duvidava. Porque ela voltava para o acampamento trazendo o rosto sereno e um sorriso malicioso, com toda tranqüilidade dos passos, o que faria qualquer um imaginar o que ela estaria tramando. Ao passar por entre os fiéis, estes lhe prestavam reverência e abriam espaço para que passasse. Quando foi recebida pelo minotauro Otmin, ouviu a notícia que estava esperando justamente para aquele momento.
- Chegaram, minha Rainha. – disse ele com uma habitual reverência. – Já passei suas instruções a todos.
- Que ótimo. – respondeu ela. – Planejo atacar ao amanhecer, mas fique atento para um ataque deles a qualquer instante.

Até aquele momento o minotauro só sabia do encontro. Não sabia o que tinha acontecido na caverna, por isso ficou tentando entender o que a Feiticeira quis dizer com aquelas palavras, enquanto ela passava por ele diretamente para a tenda dela.

Mas na floresta mais adiante, a tristeza tomava conta dos seis que saíram da caverna. General Sperdan, Lorde Doran, Nedamus, Óruns, Graarnes e o anão Trinkin tinham ficado para fazer guarda para a Rainha Cisne Branco, antes do fatídico encontro com a Jadis, e receberam em troca uma missão nada agradável. Juntos imaginavam o peso da notícia do desaparecimento da Rainha para o exército narniano. Andavam de cabeça baixa e com um silêncio de morte, até serem recebidos pelo urso Caixalote.
- General, foi bom terem chegado agora.
- Meu bom urso. Se não for importante, é melhor deixar para uma outra hora. – disse o general.
- Receio que seja importante, meu General. Tem uns visitantes esperando pra falar com o senhor. Vieram de muito longe. – respondeu o urso, em tom preocupado.
- De quem você está falando? – perguntou Lorde Doran, lembrando dos soldados da Arquelândia que estavam a caminho.
- É melhor que vejam. Estão escondidos naquela parte da floresta. – o urso apontou para um canto afastado, com umas árvores enormes, e continuou a falar. – Disseram que têm informações muito importantes sobre a Feiticeira.
- Você disse “escondidos”? – perguntou o General, mostrando no rosto uma extrema incredulidade.

Enquanto isso, na tenda da Feiticeira, Ginnarbrik entrava num sobressalto, querendo chamar a atenção para uma coisa que ela estava esperando já há algum tempo.
- Minha Rainha, fui avisado que está na hora daquilo que planejamos.
- Creio que o momento não está para enganos. Você tem certeza disso?
- Sim senhora. Estou bastante certo. Eles subiram pelo noroeste e estão quase chegando. Há tempo de nós os encontrarmos antes que cheguem ao exército narniano e poderemos voltar antes que anoiteça.
- Excelente. – respondeu ela. – Então vamos agora, sem perda de tempo.

Jadis pegou mais que depressa sua varinha e alguns outros pertences.
- Fique com isso. – disse ela entregando a Ginnarbrik uma espécie de chicote. – Pode ser que você precise usá-lo mais tarde.

E os dois saíram rapidamente da tenda. Jadis deu mais instruções a seu comandante e partiu, na companhia do anão.

Mais adiante, perto do exército narniano, General Sperdan seguia com Nedamus em direção aos visitantes. Havia dado instruções a Lorde Doran e a Óruns de informar aos soldados o que havia acontecido até então. Andavam apressados pelas árvores, pois esperavam que qualquer informação a mais sobre a Feiticeira seria de muita valia. Chegaram a um canto mais denso, onde fora indicado pelo urso, e se depararam com uma grande surpresa.
- O que é isso? Uma armadilha? – perguntou o General, empunhando sua espada, e olhando atônito para os gigantes que apareciam um a um. Nedamus segurou o braço dele, afim de que pudessem saber o que se passava quando o gigante mais próximo disse num tom benevolente.
- Calma, amiguinho. Nós viemos em paz. Nem todos os gigantes são fiéis à Feiticeira.
- Mas então, porque estão escondidos? – o General quis saber.
- Nos escondemos porque a Feiticeira não sabe que estamos aqui. – respondeu o gigante tentando alcalmar aos dois. Sperdan sentiu seu coração batendo mais forte, mas já estava se acalmando. Porém não conseguiu abrir a boca para dizer mais nada. Nedamus tomou a dianteira.
- Queridos amigos. Como podemos ajudá-los? – perguntou o centauro e para supresa dele o gigante respondeu.
- Nós que perguntamos isso, centauro. Vocês estão em grande dificuldade e estamos aqui para oferecer nossa ajuda.
- Como assim grande dificuldade? – o General disse de súbito, como se estivesse acordando de um desmaio repentino. - Está falando da Feiticeira? Nosso exército pode vencer os seguidores dela.
- Não, não pode meu amigo. Jadis tem seguidores em número que vocês nem imaginam.
- Não creio. Deve ter cerca de oito mil com ela. De qualquer forma, estamos preparados. – retrucou Sperdan. Nedamus prestava bastante atenção aos olhos do gigante.
- Não são apenas estes. Estivemos seguindo a segunda tropa dela, que estão em torno de dez mil. – os olhos do General e de Nedamus se levantaram numa preocupação mútua. – Neste momento já se juntaram aos outros. Haviam ficado porque se encarregaram de transportar o restante das armas.
- Não é possível... – Sperdan olhava pra baixo como se estivesse procurando por algo perdido. Nedamus novamente tomou a palavra.
- Não quero parecer ingrato, meu bom gigante. Mas porque vocês vieram?
- É uma longa história, meu amiguinho.
- Pois nos conte. É bom que estejamos informados disso também. Diga-nos os nomes de todos.

E foi uma longa apresentação. Havia muitos gigantes espalhados na segurança das árvores. Estavam todos bastante apreensivos pelo tempo que estavam perdendo naquela conversa. Logo que Nedamus ficou sabendo do nome de todos, o gigante Areone que os liderava começou a contar a história deles.
- Há algum tempo a Feiticeira partiu de Harfang. Não soubemos qual o destino, mas sabíamos que ela voltaria. Nossos antepassados pensaram que ela seria boa conosco, mas com o passar dos anos ela mostrava a maldade que havia consigo. Enquanto ela estava fora, nos esquivávamos dos fiéis dela, pois estávamos tramando uma revolta. Só que ela voltou antes do esperado. Não soubemos como, mas ela descobriu nosso plano e eliminou nosso líder, fazendo dele uma grande estátua de pedra.
- De pedra? – interrompeu o General.
- Sim. – disse um outro gigante. – Depois que ele virou pedra, nós fugimos. - Areone retomou a palavra.
- Mas ao contrário do que pensamos, ela não nos perseguiu. Quando menos esperávamos, percebemos que ela havia saído de Harfang levando uma parte dos seus seguidores.
- Como você acha que ela transformou seu líder em pedra? – perguntou o General, mostrando um profundo interesse.
- Acreditamos que seja uma varinha que ela trouxe de onde esteve. – respondeu Areone para o espanto do General e do centauro que se entreolharam fazendo-se entenderem. – De qualquer forma, só esse poder já dá a ela uma força sem igual.
- Então deve ser mesmo essa varinha. – afirmou Nedamus - Ainda há pouco nós a vimos carregando uma varinha, depois que ela... – as palavras se perderam na garganta do centauro no mesmo momento que ele baixou a cabeça e suspirou, junto com Sperdan. Os gigantes olhavam para eles na expectativa de uma notícia realmente ruim.
- Aconteceu alguma coisa com a sua Rainha no encontro com ela? – perguntou Areone.
- Vocês sabiam do encontro? – levantando a cabeça, o centauro quis saber.
- Sim. – respondeu o gigante. – O urso nos avisou quando conseguimos falar com ele.
- Nossa Rainha desapareceu no encontro com a Feiticeira. – disse o General, ainda lamentando tristemente. - Não sabemos se ela foi morta ou se foi levada pra algum lugar. Só sabemos que a caverna tinha somente uma entrada e a Feiticeira estava sozinha com nossa Rainha e nosso Lorde Isarim. O pior da história é que apenas ela saiu da caverna. Ele foi transformado em pedra e, quando chegamos, estava em pedaços.

Um sentimento de profunda tristeza invadiu o rosto dos gigantes e Areone levou as mãos ao rosto como se tivesse perdido algo bastante precioso. O General e Nedamus não compreenderam muito bem aquela reação, mas antes que perguntassem, o gigante começava a falar, já com os olhos vermelhos e lacrimejantes.
- Então é isso... Nós falhamos. Era isso que deveríamos tentar evitar. Foi pra isso que fomos mandados.
- Por favor, nos explique. – disse Nedamus, num misto de indignação e preocupação. – Mandados por quem?
- Enquanto fugíamos da Feiticeira, pensando que ela iria nos perseguir, encontramos um Leão. Mas ele não era um Leão comum.
- Como ele era, então? – Nedamus já esperava a resposta que o gigante iria dizer.
- Ele era enorme e as jubas dele pareciam brilhar. De fato, só de vê-lo, nos sentíamos muito bem.
- Aslam. – sussurou o General para Nedamus, que assentiu com a cabeça. Os gigantes murmuravam concordando com que Areone havia falado sobre o Grande Leão. E o gigante continuou falando.
- Ele nos pediu pra vir até Nárnia, dizendo que vocês corriam risco de perder um grande tesouro. Disse que tínhamos que avisar a vocês que precisariam evitar a Feiticeira a qualquer custo. Só que chegamos tarde demais.
- Evitar? Seria o encontro? – perguntou o General, meio confuso.
- Certamente que sim. – respondeu Nedamus, com ar sábio, se virando de novo para o gigante. – Porque você diz que chegaram tarde demais? Não estavam seguindo a tropa da Feiticeira?
- Estávamos. Mas quando avistamos os montes mais adiante, resolvemos vir pelo outro lado do que eles seguiram, que nos pareceu mais rápido. Só que encontramos armadilhas quando chegamos à floresta. Devem ter sido feitas pelos seguidores dela.

Um sentimento de culpa passou pelo rosto do centauro. Lembrou do plano das armadilhas e dos castores.
- Não, meu caro amigo. Fomos nós. Pedimos aos nossos amigos castores que fizessem as armadilhas para atrasar a tropa da Feiticeira.
- E deu resultado? – perguntou um outro gigante, atrás de Areone.
- Deu tempo de nosso exército chegar até aqui. – respondeu o General.
- Elas nos atrapalharam também. – concluiu Areone. – Por causa delas tivemos que dar uma volta longa, passando por um lugar estranho, com umas criaturinhas esquisitas.
- O vale dos paulamas. – disse Nedamus. – Mas acho que não haveria muito que fazer. O encontro tinha que acontecer, nossa Rainha precisava tratar disso.
- Mas você não entendeu meu amiguinho. – Areone se mostrava mais triste agora. – O que a Feiticeira quer é deixar vocês sem líderes, justamente para ficarem mais fracos. Dizem que ela aprisiona as pessoas em outras dimensões. Já ficamos sabendo de muitos dos nossos que foram desaparecidos misteriosamente pelas mãos da Feiticeira. Seja o que for que a Feiticeira fez com sua Rainha, não foi feito somente porque ela achava melhor assim.

Nedamus baixou a cabeça pensativo. Certamente essa não era uma explicação muito comum, mas era a mais plausível para o momento. Fora que era a única que eles tinham. Mas ele e o General concordavam que, em se tratando da Feiticeira, eles não veriam mais a Rainha viva novamente. Praticamente o mesmo pensamento se passou pela cabeça do General, que resolveu perguntar para Areone.
- Quantos de vocês vieram até aqui?
- Nós somos noventa e dois gigantes.
- E quantos a seguem? – perguntava Nedamus dessa vez.
- Mais de três mil.

Uma pontada se deu no peito do General, que via a necessidade de mais tropas. Mas sabia que não podia perder as esperanças. O gigante continuou falando para eles.
- Muitos que vieram conosco voltaram para Harfang por causa das armadilhas e só sobramos os que vocês vêem aqui. Eles ficaram com medo que fossem de uma ação da Feiticeira.
- Eu compreendo. – disse o centauro. - E agradecemos a todos pela boa vontade de ajudar. Sei que o General e eu concordamos que precisamos de toda ajuda possível, e vocês chegaram a uma boa hora. – Sperdan concordava com a cabeça.
- Precisamos reunir nosso conselho. Vocês precisam participar. – dizia o General. – Vou trazê-los até aqui.

E Sperdan seguiu para o exército para convocar os capitães e os líderes narnianos enquanto que Nedamus ficou conversando com os gigantes, pois estava pedindo a eles um favor que dizia ser muito importante.

Só que em outra parte da floresta, pouco distante dali, um grupo de anões seguiam uma marcha em direção ao exército de Nárnia. Estavam carregando armas que haviam feito para os soldados e estavam todos contentes, cantando juntos uma canção que animava a caminhada. Até que pararam quando foram surpreendidos por um outro anão.

Era Ginnarbrik. Estava postado em cima de um tronco caído de uma árvore e esperava justamente por aqueles anões. A Feiticeira estava mais adiante, nas árvores, apenas para assistir à conversa deles.
- Quem é você? – perguntou o anão mais a frente. – Espere, você é aquele anão que nos contaram...
- Não sei o que contaram de mim, mas isso não interessa agora. Venho até vocês para que tenham a oportunidade de fazer parte dos seguidores de minha Rainha. – disse Ginnarbrik para o espanto de uns e murmúrio de muitos.
- Rainha? Com certeza você não está falando de nossa Rainha Cisne Branco. Se for aquela feiticeira, pode esquecer.
- É da Rainha Jadis que falo mesmo. – um calafrio passou por aqueles anões que estavam mais próximos de Ginnarbrik. – Ela veio até Nárnia para mudar o rumo das coisas. Esse é o tempo em que nós anões seremos muito importantes.
- Do que você está falando? - perguntava um outro anão, sem que nenhum deles ainda soubessem que a Feiticeira estava próxima. – Ela só vai trazer maldade para nós.
- Estão enganados, meus irmãos. Se estivermos ao lado dela, nossa vida será muito melhor do que é agora. Devem seguir o caminho da Feiticeira ou, então, não sobreviverão a essa guerra.

Os anões se entreolharam nervosos, mas aquele que estava na frente se adiantou.
- Esqueça. Ninguém está reclamando da vida que temos aqui. E quem você acha que é para nos dizer o que fazer? Logo você, um anão que renegou Nárnia e está aí, todo diferente.

Essas palavras ecoaram nos ouvidos de Ginnarbrik trazendo para ele uma raiva que não conseguiu conter. De fato, aquele anão estava certo. Ele não era o mesmo desde que destruiu a árvore que protegia Nárnia. Sua fisionomia era mais forte, suas roupas eram negras e seu cabelo era mais escuro do que antes. Mesmo assim, não aceitaria que outro anão falasse desse jeito com ele. Num movimento apenas, pegou o chicote que a Feiticeira lhe dera antes, levantou ao ar e chicoteou uma enorme pedra que estava ao lado dos anões fazendo com que esta, inexplicavelmente, se partisse em duas. Os anões se retraíram, receosos, e Ginnarbrik olhava para o chicote, tentando não mostrar o próprio espanto com que fizera. Logo, ele voltou à realidade e, cheio de si, encarou os anões mais uma vez para enfim dar a cartada final.
- Esse é só um parte do poder que ela deu a mim. Eu poderia muito bem ter feito isso com vocês agora.
- os anões murmuravam espantados, mas nenhum deles conseguia pensar em nada. Estavam muito nervosos e, para completar, todos ouviram latidos e uivos mais adiante. Ginnarbrik olhou para trás lembrando da Feiticeira e pôs-se a correr na direção dela, seguido pelos outros anões, para ver o que estava acontecendo.

Aconteceu que, enquanto Ginnarbrik conversava com o grupo de anões, a Feiticeira ouvia atentamente a tudo e esperava a hora certa de aparecer. Só que havia um grupo de lobos e cães que rumavam também para ajudar os narnianos. Passavam por ali justamente naquele momento. Quando reconheceram a Feiticeira tentaram atacá-la, mas foi sem sucesso. Porque no instante que o primeiro pulava ao encontro de Jadis, esta se esquivou com muita destreza, e empunhou a varinha fazendo-a encontrar com o peito do lobo e transformando-o em pedra, que acabou batendo em uma árvore e se partindo em três ou quatro pedaços. Outros dois lobos mais valentes correram para ela, mas também tiveram fim semelhante. Os outros não sabiam o que fazer. Ficaram com medo de virarem pedra, mas não tiveram coragem de fugir e nem tentar nada. Jadis se virou para eles e falou como se estivesse ameaçando.
- Vejo que aqui há muitos lobos valentes. - olhando para os lobos que estavam a sua frente. Eles se entreolhavam muito nervosos e confusos. Ginnarbrik e o grupo de anões já estavam vendo tudo acontecer. Estes estavam bastante espantados com o que viram.
- Ouçam todos. Quero que me sigam. Ou então terão o mesmo destino desses pobres coitados. - disse ela, altiva como sempre, tanto para os lobos quanto para o restante dos anões. Ginnarbrik olhava para todos como se tivesse ganho uma grande batalha.

Mais tarde a noite caía com uma rapidez impressionante. A reunião do conselho se estendia mais do que todos esperavam, quase chegando até à madrugada. Nessa reunião, todos mostravam como o exército ficou apreensivo depois que receberam a notícia sobre a Rainha. Mas era de um consenso geral que não se podia perder as esperanças.
- Mas eles agora estão em maior número. - dizia Graarnes para o General.
- Sei que eles estão numerosos. Mas enquanto formos unidos, poderemos vencer.
- E o exército da Arquelândia está a caminho. Deve chegar logo. - lembrou Lorde Doran. - Sem contar que agora temos a ajuda de gigantes.
- Não estou dizendo que devemos desistir disso. Mas quais as nossas chances? - continuou perguntando o velho anão.
- Realmente não sabemos, meu bom amigo. - dizia Nedamus, com Óruns ao lado dele. - Mas como disse o General, precisamos ficar unidos para tentar a vitória.
Em pouco tempo deixaram a discussão de lado e estavam tomando planos e idéias para o ataque do dia seguinte. Quando a reunião terminou, foram descansar. Mas não aproveitariam muito, pois em poucas horas já iria amanhecer.

Quando o sol apareceu, Jadis já estava rumando para perto do exército narniano, seguida por grande parte dos seus seguidores. Todos haviam entendido as instruções dela e fariam tudo conforme as ordens do minotauro Otmin, que seguia ao lado da Feiticeira e Ginnarbrik. Os fiéis da Feiticeira andaram bastante, derrubando árvores e fazendo muito barulho, fazendo com que fossem ouvidos de longe. Quando chegaram ao descampado, se agruparam em um ponto depois da floresta tendo uma boa vista do exército narniano. Aguardavam o momento certo de atacar que seria dado com um sinal de Jadis.

Do outro lado do descampado, os narnianos já estavam a postos. Esperavam pelo General para dar a ordem de atacar. Do ponto onde estavam ouviram toda a algazarra dos seguidores da Feiticeira. A coruja Lufânia, que embora meio vesga, tinha uma ótima visão, estava logo à frente do exército, ao lado de Graarnes e comentou com ele quando reconheceu Ginnarbrik.
- Graarnes, consegue ver adiante? Ao lado da Feiticeira... É o Gunnar.
- Daqui não dá pra ver muito bem, minha amiga. Mas se você diz que é ele, então eu acredito.
- Ele está muito diferente, mas sei que é ele mesmo. O rosto dele é inconfundível. Vou ficar de olho nele. - disse a coruja, fazendo uma cara de quem não estava pra brincadeiras.

Nesse momento passaram por eles o General Sperdan, Nedamus, Óruns, Lorde Doran e mais seis capitães do exército. À exceção dos centauros, montavam seus cavalos prontos para a guerra. Passavam em revista à tropa e o General parou bem no meio deles para fazer um discurso antes do ataque. Levantou a voz para que muitos o ouvissem.
- Narnianos. Essa é a hora da verdade. Mais adiante temos uma batalha que não podemos perder. Não sei bem o que significa uma derrota para nós, mas com certeza, irá culminar no domínio daquela malvada Feiticeira. Eu não quero isso. Quero ver Nárnia livre como sempre foi. Quero andar pelos bosques e saber que quem reina aqui é alguém justo e bondoso. Quem conheceu nossa Rainha Cisne Branco sabe disso. Ela era a melhor pessoa do Reino, e agora desapareceu por causa daquela que lidera o outro lado. Não sei dizer a vocês se ela a matou ou se fez outra coisa, mas não guardo esperanças de ver minha Rainha novamente. Precisamos fazer a Feiticeira pagar por essas maldades, antes que ela consiga tomar o reino. Só sei que eu não quero viver enquanto a Feiticeira estiver reinando em Nárnia. QUEM ESTÁ COMIGO?

Muitos levantaram uma das mãos armadas e ouviu-se um grito praticamente único entre os soldados.
- EEEEEUUUUU!
- QUEM QUER VER NÁRNIA LIVRE? - continuou o General, para outra reação do exército.
- EEEEEUUUUU!

O General virou seu cavalo, sendo acompanhado por aqueles que o ladeavam, empunhou sua espada, levantando-a para cima e gritou para o exército.
- POR NÁRNIAAA!

Os soldados o acompanharam.
- POR NARNIAAAAAAAA!
- PELA RAINHAAA!
- PELA RAINHAAAAAAAA!

Com esse grito, o General fez seu cavalo correr em direção dos seguidores de Jadis, sendo seguido por um enorme grupo de soldados. Em pouco tempo entrariam em confronto direto com os fiéis da Feiticeira, que estava olhando atenta para o lado dos narnianos. Ela tinha tudo em mente. Só esperava mesmo a hora certa de agir.