sexta-feira, 10 de junho de 2011

Terminando! ;)

Pois é. Esse é o último capítulo desta estória para qual dediquei esse blog. Gostei tanto, foi uma experiência engrandecedora, escrever esta fic. Me senti realmente como alguém de Nárnia, um fruto da imaginação de Lewis. Tive sensações maravilhosas com ela. Ri, chorei, fiquei apreensivo. Senti muitas coisas imaginando e escrevendo. Acho que quem acompanhou a história, pode imaginar. Espero que tenham realmente gostado. Escrevi esse último capítulo logo depois de escrever o primeiro, porque já estava com 78,97% da história na cabeça. Só faltava mesmo colocar no computador. Foi muito bom. Agora, vou dar mais atenção para outras fics que posto no Nyah Fanfiction: A Face do Fauno, que está mesmo precisando de atenção, continuar a escrita de Hermione Granger: Reencontrando os Pais e pensar em outras que ainda quero escrever.

(Adaptei do que escrevi no Nyah.)

Capítulo Final: A Tristeza do Centauro


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.


Óruns galopou por horas, mesmo anoitecendo, sem parar. Desesperado, aflito e confuso, corria como se não tivesse rumo certo, como se quisesse esquecer todos os acontecimentos recentes, todas as coisas que mudaram no reino. Sentia medo. Não só por si próprio, mas pelo futuro de Nárnia e por seus amigos que ainda viveriam todas aquelas ameaças da Feiticeira que se realizariam por anos. Por fim chegou. Havia cavalgado até a Mesa de Pedra, que era um dos lugares mais importantes e sagrados para os narnianos, onde a neve ainda não havia alcançado. Lá chegando, com a tristeza que o inundava, o centauro não conseguiu conter o que sentia no peito. Dobrou suas patas de cavalo, fazendo seu grande corpo cair no chão, e se abaixou de modo que seu rosto se encostasse à relva. Com isso, não conteve seu pranto. Chorava com toda a força que havia em seu peito. Até que sentiu que alguém lhe tocara os cabelos. Alguém não, algum animal, pois no mesmo momento em que reconheceu uma pata peluda e macia, ouviu uma voz que invadia seus ouvidos como se fosse a mais agradável das canções.

- Levante-se, Óruns, meu filho. – disse o Leão ao lado do grande centauro, que o reconheceu mas, sem saber o que pensar, tentou pronunciar com força enquanto tentava se levantar.

- Senhor, não tenho ânimo para nada. Perdi amigos e o mundo que tanto amo está prestes a ser destruído.

- Eu sei meu filho. Estou a par de tudo que acontece. – disse Aslam, resignado.

- Mas senhor, como salvar essa terra? Como poderemos nos livrar dessa Feiticeira que nos trará a ruína? Pode o senhor nos ajudar?

Aslam sentiu na voz do centauro uma fina esperança, que talvez qualquer coisa que lhe falasse seria mais forte que a Feiticeira, mas no momento não poderia fazer muita coisa.

- Não, meu filho. Não posso. O que eu poderia ter feito por Nárnia, até agora, já fiz. Mas houve quem consentisse que a Feiticeira aparecesse. Estou muito orgulhoso pela coragem de meu povo, desta terra, mas também não posso fazer nada quanto à Feiticeira, ainda. – dizia Aslam, olhando diretamente para os olhos de Óruns. - Mas isso já está sendo providenciado. No momento em que nós estamos conversando, nasce uma ponta de esperança que vai trazer a nossa Nárnia de volta. Mas por agora, peço que olhe as estrelas e diga o que vê.

O centauro pôs-se de pé, imponente como deveria ser, e se colocou a olhar as estrelas que apareciam como se estivessem encantadas no céu. Com um rosto de incredulidade, disse:

- Senhor, estou confuso. Não entendo.

- Preste bem atenção, meu filho. As estrelas nunca se enganam.

- Estou vendo Tarva, o senhor da vitória, sendo seguido por quatro estrelas que não reconheço, a maior delas está mais próxima. E se estou certo, são quatro pessoas... Seriam...

- Dois Filhos de Adão e duas Filhas de Eva. Sim, meu querido Óruns. É exatamente isso que vê. – interrompeu Aslam, acenando a cabeça positivamente.

- Senhor, como posso acreditar nisso depois do que aconteceu a nós nesses últimos dias? - perguntou o centauro, ressentido.

- Confie nas estrelas, pois isso é o que os centauros fazem melhor. - respondeu Aslam, levantando-se solenemente e continuou. - E agora eu lhe digo: Vá e espalhe essa profecia. De que haverá o dia em que dois Filhos de Adão e duas Filhas de Eva chegarão a Nárnia e irão restaurar a ordem das coisas. Serão reis e rainhas em Cair Paravel e será uma das melhores e pacíficas épocas que Nárnia viverá. Serão lembrados por muitos séculos, pois os feitos deles serão grandiosos. Porque tudo isso eu vou tratar de deixar pronto, mas no tempo certo. Peço a você que confie, pois vou esperar seus filhos para nos ajudar na libertação de Nárnia.

O grande centauro entendeu as palavras que ouviu. Lembrou-se daquilo que seu mestre, Nedamus, dissera uma certa vez, que ele teria uma missão importante. Logo deu um suspiro profundo e, de cabeça erguida, agradeceu por estar ali na presença do Grande Leão e se foi embora, mais confiante, deixando Aslam contemplando as estrelas que reluziam, apesar de haver uma breve fumaça no ar.

Mas vocês devem ter notado as palavras de Aslam dizendo “Mas isso já está sendo providenciado...”, pois no momento em que pronunciava essas palavras, bem distante dali, pra dizer a verdade, no nosso mundo, em Londres, o que restou de uma grande árvore estava sendo transformada em móvel. Parece ser simples, afinal era só uma árvore para que não conhece a história dela. Mas muitos não sabem o quanto essa árvore significou para um certo Filho de Adão. Pois quando esteve em Nárnia, trouxe para o nosso mundo o fruto daquela árvore que a Feiticeira mandou destruir, e usou as sementes desse fruto para plantar esta. Não queria dar outro fim ao tronco da árvore, por isso mandou fazer dela um enorme guarda-roupa. Só que, inconscientemente, o Professor Kirke, mais uma vez, estava ajudando àquela terra. Esse guarda-roupa será o responsável por guardar o portal por onde passará as quatro crianças que irão libertar Nárnia. Mas, a história de verdade, somente C.S.Lewis poderia contar melhor.

Capítulo 8: O Segredo que Guarda o Castelo


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.


O que mais agradava os habitantes de Nárnia era a magia que circundava o reino. Parecia até que não havia guerra naqueles dias e na maior parte permanecia uma paz sem igual. Os narnianos sabiam do que estava acontecendo e temiam que a Feiticeira terminasse vitoriosa. Mas confiavam no exército narniano e isso mantinha uma certa segurança nas outras partes de Nárnia.

E foi em um desses lugares que essa paz foi quebrada com dois gigantes carregando um centauro. Corriam para salvar a vida de Óruns, que era o pedido de Nedamus antes da batalha. Estavam a meio caminho da famosa Ponte de Pedra quando os dois não estavam mais aguentando correr, pois ambos estavam muito feridos. Entre os dois, havia o centauro ainda tentando acreditar no que aconteceu com seu mestre. Para ele não importava mais se os centauros eram fortes, as lágrimas caíam sem cerimônias. Lembrava dos ensinamentos de Nedamus, das palavras que disse sobre confiar na lealdade dos Filhos de Adão e do amor que os narnianos sentiam por Nárnia. A sabedoria de Nedamus sempre foi admirada por reis e rainhas que passaram por Cair Paravel e só agora Óruns percebera que nunca havia pensado no dia em que não tivesse mais o mestre ao seu lado.

Quando os gigantes sentiram que estavam mais seguros, resolveram parar porque não aguentavam mais – Óruns também notou isto. As flechas que os gnomos e sátiros acertaram neles estavam agravando os ferimentos.
- Desculpe amiguinho. - disse Griamones, enquanto colocava o centauro no chão. - Precisa continuar sem a gente.
- Vocês estão muito feridos. Vou tirar estas flechas.
- Não precisa. Podemos cuidar disso. - falou Runtamarco.
- Não há tempo a perder. Nedamus queria que salvássemos sua vida. Ele se sacrificou por isso. - voltou a falar Griamones, com a cabeça baixa. - Deve partir rápido e cuidar do seu destino.

Óruns engoliu em seco o que acabara de ouvir. Começava a entender o propósito do mestre e concordou que precisava ir embora.
- Como vocês ficarão? O que irão fazer agora?
- Primeiro vamos dar um jeito nas feridas e depois tentar encontrar os outros para voltar para Harfang. Sinto muito por não conseguirmos ajudar. Se haviam dúvidas que a Feiticeira derrotaria um exército, elas não existem mais - lamentou Runtamarco.
- Não tenho como agradecer o que fizeram por mim.
- Não agradeça. Apenas viva. - disse Griamones. E os três se despediram longa e demoradamente para que Óruns tomasse um caminho sem rumo. Até aquele momento não tinha idéia para onde iria e nem o que fazer. Os dois gigantes ficaram no mesmo lugar até que o centauro desaparecesse no meio da floresta.

Mais ao norte, no local da batalha, a neve começava a cair do céu e tomava conta do terreno e das árvores. Ainda havia poucos narnianos resistindo, mas a guerra já estava decidida e a Feiticeira Branca aparecia vitoriosa na frente do comandante Otmin. Atrás dela havia milhares de estátuas de pedra e muitos narnianos mantidos prisioneiros, sem contar as baixas. O minotauro se abaixou, prestando uma reverência que foi repetida pelos fiéis que estavam próximos.
- Minha rainha. Agora temos Nárnia. - disse Otmin.
- Isso mesmo. Contemplem todo meu esplendor. - disse Jadis, apontando para a vasta floresta que estava próxima. - Agora a rainha de Nárnia serei eu e todos irão me obedecer. Antes de mais nada, quero que eliminem todos os Filhos de Adão que encontrarem no reino. E que aqueles que não me tomarem por rainha, também sejam eliminados. Comandante, você sabe o que fazer.

O minotauro deu um mugido em comemoração à vitória, que foi ouvido à muita distância. Quando a Feiticeira notou que Ginnarbrik estava próximo, disse a ele:
- Ginnarbrik, você cuidará da construção do meu castelo. Essas estátuas serão meus troféus. Quero todas que estão inteiras guardadas em um grande salão. - Guinnarbrik prestou uma reverência, mostrando que compreendera as ordens de Jadis.

Algum tempo depois, em Cair Paravel, General Sperdan acordava sentindo muitas dores e tontura, notando que havia um grifo em pé e em frente de onde ele se deitava. Ainda não percebeu que tinha sido levado para o castelo e que estava nos seus aposentos.
- O que aconteceu? Onde estamos?
- Estamos em Cair Paravel, General. No seu quarto.
- Há quanto tempo fiquei desacordado?
- Um dia. Foi o tempo que levei pra trazê-lo até aqui.
- Na verdade, vocês chegaram há quase meia hora. - uma voz doce e gentil aparecia de repente. Sperdan não havia notado que sua mulher estava ao lado da cama, preparando curativos para os ferimentos dele.
- Ireva, que bom te ver. - o general tentou levantar, mas uma dor na perna não deixou que conseguisse. Sua mulher interveio.
- Não force. Também estou satisfeita em saber que você está vivo, mas precisamos cuidar desses ferimentos agora.

Resignado, o General desviou a vista para o lado do grifo e notou algo estranho do lado de fora da janela atrás dele.
- Mas o que é aquilo? - perguntou o General, apontando para o lado norte de Nárnia. A vista dos aposentos de Sperdan apontava justamente para a direção do campo onde a batalha ocorreu e dava pra ver claramente o que acontecia. - Neve? Mas não estamos na época...
- Não mesmo. Aquilo foi provocado pela Feiticeira. - interrompeu o grifo. - Pouco a pouco, está se espalhando pelo reino.
- Grifo, você está ferido. - disse Sperdan, notando os curativos que estavam no dorso do grifo.
- Eu estou bem. Essas feridas não são nada. As suas são muito mais graves.

De repente, a atenção dos três foi desviada para a porta que se abria desajeitadamente. Estavam entrando uma mulher para ajudar Ireva e três doninhas carregando uma bacia com água quente, quase derrubando.
- Ei, segura aí... - dizia uma delas.
- Calma. Isso tá quente. - retrucava a outra doninha.
- Me desculpe. - disse a ajudante – Eles insistiram em ajudar.
- Não tem problema. - respondeu Ireva com um sorriso simpático. - Podem colocar em cima do banquinho. Obrigada.
- Precisam de mais alguma coisa? - perguntou a terceira doninha depois que as três deixaram a bacia.
- Por enquanto é só. - disse Ireva. - Se precisarmos, vamos chamar. - e as três doninhas saíram do quarto prestando reverência para os quatro.

Enquanto as duas mulheres colocavam os curativos no General, Sperdan ficou conversando com o grifo para saber algumas informações.
- Grifo, qual o seu nome?
- Timerus, senhor.
- Deu para ver qual a situação do nosso exército?
- Não pude ver muita coisa, mas deu pra ver que a Feiticeira transformou muitos dos nossos em estátuas. - disse o grifo abaixando a cabeça.
- Você me trouxe para cá. Porque?
- Foi o Lorde Doran que me pediu isso. Disse que era um pedido da Rainha Cisne Branco.
- Porque ela iria pedir isso? - perguntou Ireva, mais para Sperdan do que para o grifo.
- Eu sei porque. - respondeu o General enigmaticamente. Ireva, que nunca precisou questionar os motivos do marido, viu que esta era mais uma situação que Sperdan considerava de suma importância para o reino.
- Ireva, precisa partir daqui. Reúna todos os narnianos que quiserem sair de Nárnia e também todos os Filhos de Adão e Filhas de Eva. Diga a todos que precisam sair do reino. Quem quiser, pode ir para a Arquelândia... - quando dizia isto, Sperdan se lembrou da tropa da Arquelândia que iria ajudar na batalha. - Timerus, você viu os soldados da Arquelândia?
- Sim, pude ver. Chegaram tarde demais. Alguns soldados ainda entraram na batalha, mas muitos fugiram ao ver o que a Feiticeira estava fazendo com os nossos.
- Não os culpo. Nós não esperávamos que a Feiticeira fizesse algo parecido. - disse Sperdan, voltando a atenção para sua esposa. - Tenho certeza que a Arquelândia não recusará exílio. Mas o melhor mesmo é que vão para as ilhas solitárias, ou algum lugar além de Galma. Creio que a Feiticeira não irá perseguir até lá. Quero que pegue nosso filho e vá para Terebínthia ou mais longe. Podem usar o Grande Luar.
- Mas e você, Sperdan? - perguntou Ireva.
- Eu devo ficar aqui. Só eu e a Rainha sabemos o que pode proteger Cair Paravel de alguma ação da Feiticeira.
- Ainda vou vê-lo novamente?

Sperdan não teve coragem de responder à pergunta de Ireva. Abaixou o olhar, denunciando a ela a temida resposta.
- Eu entendo. Há coisas muito importantes na vida. Alguém precisa cuidar do castelo. - disse Ireva, com os olhos vermelhos.

Horas mais tarde, o General se encontrava de pé na frente da porta dos aposentos da Rainha Cisne Branco. Com a ajuda do grifo, conseguiu chegar até lá para pegar uma chave. O castelo já estava vazio porque Ireva estava cuidando do que o marido pediu. Só havia os dois dentro de Cair Paravel.
- Vou sentir muita falta dela. - disse o grifo, olhando para os móveis que a Rainha utilizava.
- Eu também. Nunca esquecerei tudo que ela fez por mim. - dizia Sperdan, se digirindo a um pequeno armário onde abriu uma gaveta e tirou um pequenino baú. A chave que ele queria estava ali. Quando pegou o objeto, ele suspirou e, olhando para a chave, comentou com o grifo.
- Nunca havia pensado no dia que precisaria desta chave. - o grifo apenas observava Sperdan contemplando o objeto. Quando pegou a chave, ele disse ao grifo.
- Vamos, Timerus. Precisamos ir para os pavilhões abaixo do castelo.

E o grifo ajudou o General a caminhar pelos corredores e escadas de Cair Paravel. Ora iam em silêncio, ora falavam da Rainha Cisne Branco. Em alguns corredores mais estreitos, por causa do seu tamanho, o grifo acabava por esbarrar em uma ou outra coisa. Por fim chegaram aos pavilhões que haviam abaixo nas fundações do castelo. O grifo não imaginava o que havia naquele local.
- Minha nossa, nunca vim aqui. - observou Timerus, vendo a altura do pavilhão onde estavam.
- Quase ninguém veio. Era praticamente desconhecido. - respondeu Sperdan.

Chegaram na frente de uma porta que o General abriu mostrando a sala simples que apareceu. Um imponente e enorme baú de prata repousava no centro da sala e refletia as luzes que recebia das tochas que Sperdan e Timerus carregavam.
- Que baú lindo. – dizia o grifo, observando os detalhes em prata e a figura de Aslam na parte de cima do baú.
- É sim. - concordou Sperdan, com um sorriso tímido.

O grifo acompanhou o General até o baú, para que colocasse a chave que trazia na fechadura do grande objeto. Quando Sperdan abriu, Timerus se espantou a ver o conteúdo dele.
- Maçãs, senhor?
- Não, meu nobre Timerus. Parecem maçãs. Mas são os frutos daquela árvore que guardava o encantamento contra a Feiticeira. Por acaso notou algumas árvores diferentes ao redor do castelo?
- Não senhor. - respondeu o grifo.
- Imaginei. Agora você é o único em Nárnia, além de mim, que sabe disso. Existem árvores, filhas daquela que nos protegia, plantadas em um grande círculo ao redor de Cair Paravel. - dizia Sperdan quando algo que começou a acontecer com os frutos dentro do baú chamou a atenção do grifo.
- Elas estão sumindo...
- Estão se evaporando. - disse o General enquanto os frutos sumiam um a um. - Nesse momento estão se misturando ao ar que respiramos. Esses frutos agirão com as árvores formando uma espécie de bolha invisível que vai proteger nosso castelo de qualquer um que tentar fazer alguma coisa em nome da Feiticeira, e até dela própria. Com isso ela não vai poder fazer nada com esse castelo.
- Então Cair Paravel estará para sempre protegido?
- Infelizmente não. - respondia o General olhando para os olhos do grifo. - Esse encanto só irá durar enquanto a Feiticeira viver. Foi o que Aslam nos disse. Ele próprio trouxe este baú das terras do Imperador de Além-mar.
- Logo vi que uma prata dessas não poderia ser de Nárnia. - comentou o grifo.
- Exatamente. - concordou Sperdan e os dois continuaram a observar até que último fruto se evaporasse e o baú ficasse inteiramente vazio.
- Está feito. Agora é esperar que tudo dê certo. - resignou Sperdan, fechando o grande objeto.

Os dois deixaram a sala do baú em silêncio, pois a magia estava lançada. Mas eles agora tinham certeza que, qualquer que fosse o futuro do reino, o castelo haveria de se manter firme. A Feiticeira, mesmo que quisesse, não poderia fazer nada contra Cair Paravel.

Capítulo 7: A Batalha das Pedras


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.


Até mesmo aqueles que são acostumados a batalhas e guerras sabem que há sempre um clima de horror nelas. A idéia da guerra é sempre ruim, tanto para quem vê de fora, quanto para quem está no meio dos guerreiros. Mas em Nárnia chega a lembrar os tempos bárbaros de nosso mundo, onde tudo se resolvia com guerras entre nações. Sem contar que lá existem animais falantes e dotados de inteligência, assim como aos humanos. Era horrível saber que, entre aqueles que batalhariam contra os fiéis da Feiticeira, estavam centenas de ursos, macacos, rinocerontes, cavalos, texugos, toupeiras, javalis, tamanduás, leopardos, pássaros de várias espécies e tamanhos, castores, alces e tigres. Lembrando que havia ainda outros animais mitológicos, entre eles, fileiras de centauros, milhares de faunos correndo para o confronto e um bando enorme de grifos voando junto ao exército. Até parecia que todos os habitantes de Nárnia estavam ali. Boa parte da tropa corria como se não houvesse mais nada na vida. Mas enfim, tinham uma boa intenção. A única coisa que pensavam era em defender Nárnia.

Mas a Feiticeira olhava para os narnianos com muita serenidade. Parecia que ela estava somente aproveitando a brisa que lhe tocava o rosto, embora os olhos dela não desviassem a atenção para o que estava acontecendo. Aquela calma de Jadis estava incomodando os fiéis. Precisariam aguardar o sinal, mas a medida de que os narnianos avançavam, eles começavam a duvidar que ela se lembraria desse detalhe.

Foi quando a Feiticeira notou ao longe, bem atrás do exército narniano, sete árvores se movimentando. Não teve dúvidas, elas também entrariam na batalha. De súbito, a Feiticeira pegou uma tocha das mãos de um duende e a soprou fazendo com que se formasse uma enorme labareda em forma de linha na direção das árvores, passando por cima do exército que avançava. Os narnianos que avançavam se assustaram com que viram, mas continuaram o caminho. Três das árvores foram atingidas, espantando as outras que também se movimentavam. O restante da tropa, que aguardava para entrar na batalha, se manteve no lugar, embora todos estivessem também assustados. E com toda razão. Nunca haviam visto algo parecido em Nárnia. Realmente perceberam que a Feiticeira era mesmo poderosa.

Graarnes, que liderava os anões arqueiros, recebeu o sinal de um dos capitães do exército narniano para atacar. Um dos planos era aguardar que a primeira tropa narniana estivesse a meio caminho do confronto, quando os anões alvejariam os seguidores de Jadis com flechas.

- Arqueiros, preparem-se!

E os anões levantaram os arcos para o alto.

- Apontar... Atirem!

E Graarnes viu poucas flechas cruzarem o céu, certamente menos de um quarto das flechas que esperava. As que voaram atingiram poucos dos inimigos. Sem entender porque aconteceu, Graarnes se virou para o primeiro anão que viu que não havia atirado e perguntou raivoso.

- O que aconteceu? Porque não atiraram?

- Desculpe, Graarnes. Mas agora servimos à Feiticeira.

Graarnes não podia acreditar no tinha ouvido. Não era possível que aqueles anões tivessem se virado contra Nárnia. Os soldados que estavam próximos dos anões também não estavam acreditando. O sangue subiu à cabeça e o velho anão empunhou a espada que trazia na cintura e começou a atacar os traidores, gritando “TRAIDORES!!”. Mas logo foi atingido por três anões que estavam próximos e caiu. Os soldados também entenderam e começaram a atacar os anões que agora revidavam. Próximos também estavam aqueles lobos e cães que, por medo, passaram para o lado de Jadis e entraram na briga. A confusão estava formada. Era os que agora serviam à Feiticeira contra o restante do exército narniano. A coruja Lufânia, que estava distante no momento, assim que viu a confusão, voou para procurar por Graarnes e, quando encontrou, puxou-o para longe daquela briga, se esquivando daqueles que tentavam acertá-la. Quando estava mais segura, viu que o velho anão respirava com dificuldade, mas não sabia o que fazer numa situação dessas.

- Graarnes, aguente...

- Não... é tarde demais... Gu... Gunnar. Precisa... trazê-lo de volta. - disse o anão que logo depois fechou os olhos e pareceu apenas dormir. A coruja não pensou duas vezes. Encostou a cabeça de Graarnes no chão e saiu voando na direção dos fiéis da Feiticeira para procurar por Ginnarbrik, deixando de lado as emoções pela perda do amigo e o medo do que encontraria.

Aqueles que avançavam também tiveram uma desagradável surpresa. Quando estavam próximos, Jadis fez um movimento brusco com uma das mãos, como se estivesse jogando algo para longe, e no mesmo instante um forte vento atacou os narnianos. Não sabiam se era um redemoinho ou apenas uma grande ventania, devido a força do vento. O vento era tão forte que não havia como alguém se manter no chão, ainda menos correndo.

- Segurem-se uns nos outros! - gritou Óruns que rapidamente entendeu que era a melhor maneira de se manter no chão, o que foi entendido por quem estava próximo a ele e repetido por outros. Os grifos que voavam, agora com dificuldade, tentavam segurar quem era levado pelo vento.

Quando o vento cessou, alguns narnianos que estavam suspensos caíram bruscamente. Confuso, o General Sperdan olhou para trás, na direção do restante do exército e não pôde acreditar que havia uma luta entre aqueles.

- Mas... O quê? - disse Sperdan e Nedamus, Óruns, Lorde Doran e alguns narnianos olharam para a mesma direção do General e também não acreditaram no que viram.

Decidida, a Feiticeira se virou para o Comandante Otmin e sinalizou para o ataque. O minotauro deu seu mais alto mugido para que todos ouvissem. E assim se seguiu. Os fiéis que estavam próximos a Jadis correram com sede de luta para a frente dos narnianos, no mesmo momento que os gigantes que lutavam pela Feiticeira apareciam pelos lados. General Sperdan, que viu seu exército cercado, não teve opção a não ser ordenar o ataque.

- Atacar! - Gritou ele em uma fúria nunca vista antes e todos que estavam próximos começaram a lutar contra os fiéis da Feiticeira.

A batalha estava muito desigual. Os gigantes que estavam do lado narniano viram isso. Areone, que tentava ignorar a briga que ocorria com o exército narniano próximo, não esperou o sinal para que entrasse na batalha e gritou para os outros gigantes:

- É a nossa vez. Vamos! - e os outros gigantes foram atrás dele, saindo das árvores diretamente para onde a batalha principal ocorria. E muitos dos narnianos que estavam fora da briga os seguiram também. A Feiticeira, que não havia saído do lugar, não ficou surpresa com a entrada daqueles gigantes. De certa forma, já esperava por isso. Sabia que aqueles eram os revoltosos em Harfang. Mas procurou não ligar para este fato. Para ela, já era o momento de providenciar outra coisa.

- Está na hora. Vamos. - disse ela para Ginnarbrik, e ele a seguiu para uma parte mais afastada da floresta, acompanhado por mais três fiéis. Lufânia, que estava a uma certa distância de Jadis, chegou a tempo de ver Ginnarbrik e ir atrás deles, chamando alguns narnianos para acompanhá-la. A coruja logo entendeu que boa coisa não iria acontecer.

Alguns minutos depois, a Feiticeira já estava próxima de um lugar que julgava mais adequado dentro da floresta quando Lufânia e alguns narnianos estavam alcançando-na. A coruja não tinha plano algum, apenas queria o amigo de volta. Quando sentiu estar próxima o suficiente, fez a primeira coisa que veio à sua cabeça.

- Gunnar! - gritou a coruja para chamar a atenção do antigo amigo. Ginnarbrik se virou e viu que quem o chamava era Lufânia, que estava acompanhada de um urso, três faunos e duas panteras. Pensando no que fazer, o anão se virou para Jadis que, sem olhar para trás, já havia entendido o que estava acontecendo. E sem se virar para Ginnarbrik, ordenou:

- Impeça-os. - disse a Feiticeira e imediatamente, o anão e os fiéis que o acompanhava, deixaram Jadis cuidando do que precisava e correram para aqueles narnianos. Mas antes que qualquer dos lados atacasse, Lufânia tentou conversar com o anão.

- Gunnar, por favor. Deixe essa Feiticeira. Volte para nosso lado.

- É Ginnarbrik para você, sua coruja imbecil! - gritou o anão, mas essa resposta não causou medo em Lufânia, apenas um misto de pena e receio pelos modos diferentes que aquele anão mostrava. Quando ele disse isso, a coruja percebeu que já havia perdido o amigo. Seria difícil fazê-lo mudar de idéia. Uma raiva se apoderou da coruja, que viu que não haveria outra solução senão continuar lutando por Nárnia.

- Vamos... Ataquem! - ordenou o anão e começou-se uma outra luta. Ele correu direto para a coruja, que se esquivava dos golpes do machado do anão ao mesmo tempo que procurava acertá-lo com as garras.

Enquanto acontecia aquela luta, a Feiticeira colocava no chão uma espécie de cálice com um líquido estranho e borbulhante. Com um movimento de sua varinha, murmurou umas palavras estranhas fazendo que daquele cálice saísse uma coluna de luz que seguia para o céu. No alto, podia-se ver nuvens se aglutinando ao redor do ponto onde a luz chegava e ninguém próximo à Feiticeira parecia notar que havia um vento mais forte ou que o clima estava se tornando frio bruscamente.

Daquela luta, os narnianos estavam levando a melhor porque os fiéis da Feiticeira, apesar de se mostrarem mais fortes, estavam em menor número. O ogro lutava com o urso e os dois minotauros lutavam com os faunos e as panteras. Com um certo esforço, Ginnarbrik conseguiu atingir a coruja com o cabo do machado fazendo-a se desequilibrar e assim pôde agarrá-la pela garganta, mas antes que desferisse um golpe certeiro, Lufânia tentou mais uma vez convencer o anão.

- Gunnar... seu pai... - o anão parou um instante para saber o que a coruja falaria. - Ele queria que você voltasse para nós... Ele... Ele morreu há poucos minutos.

O que Lufânia falou não fez diferença na mente de Ginnarbrik. O anão apenas forçou a mão que segurava a coruja e, sem mudar a expressão no rosto, disse.

- Um a menos.

A coruja desistiu. Não havia como recuperar o amigo de tantas tardes agradáveis. Com certeza, aquele anão que lhe segurava não era mais esse amigo. O desagrado que ela sentiu porque Ginnarbrik não sentia mais nada pelo pai foi transformado em raiva que a fez levantar as garras e conseguir se soltar do anão ferindo o braço dele. De repente ela bateu as asas e foi pra cima do anão, para dar mais um golpe, mas algo aconteceu com ela.

Ginnarbrik viu apenas a Feiticeira chegando por trás da coruja e, com a varinha, fez com que ela se transformasse em pedra. Como Lufânia ainda estava no ar, caiu com toda força fazendo se quebrar. Jadis não esperou mais nada. Avançou para os outros narnianos e fez com que cada um virasse estátua. Até mesmo o urso, que tentou atingir a Feiticeira com uma lança. Jadis não deu tempo para que eles respirassem ou pensassem em algo. Logo, seguiu caminho para o local da batalha, chamando Ginnarbrik e os fiéis para a seguirem. Enquanto ela caminhava pela floresta, os ventos frios agitavam as árvores. Duas delas se arrastaram para ficar no caminho da Feiticeira. Os dois minotauros logo se colocaram a disposição para derrubá-las, mas Jadis interviu.

- Não! Deixem comigo. - sem perder tempo, a Feiticeira cravou a varinha na terra e provocou um grande tremor, que foi sentido até no campo de batalha, fazendo com que aquelas árvores fossem derrubadas. Com a passagem livre, Jadis continuou o caminho na companhia daqueles fiéis. Nenhuma outra árvore tentou fazer o mesmo.

No campo de batalha as coisas não estavam indo bem para os narnianos, mas eles resistiam bravamente. Um ou outro parava um rápido instante para tentar entender aquela estranha formação de nuvens que aparecia. Aquele vento gelado denunciava a Nedamus que havia algo de errado. Ninguém notou quando ele, depois de olhar para as nuvens, fez sinal pedindo para que dois gigantes ficassem sempre perto dele. Do outro lado, quando a Feiticeira chegou no local, notou que ainda havia muitos dos líderes narnianos de pé e lutando. Os fiéis ainda não conseguiram eliminá-los conforme as ordens dela. Mas ainda assim estava sendo muito difícil para os narnianos porque os seguidores da Feiticeira eram numerosos e bem armados.

A Feiticeira ficou um bom tempo avaliando aquela luta dos dois exércitos. Viu que havia mais de seus seguidores do que havia de soldados narnianos, mas logo entendeu que aquilo se arrastaria por horas e tomou a decisão fatal.

- Está na hora de acabar com isso. - disse a Feiticeira, aprontando a varinha para entrar na batalha. Ginnarbrik também entendeu e, junto com os dois minotauros e o ogro, foi para a luta.

Quase ninguém notaria se Jadis estivesse apenas atacando os narnianos como os seus seguidores faziam. Mas quando ela usou sua varinha para transformar o primeiro fauno que viu em pedra, o espanto tomou conta de quem estava perto dela. Mas os narnianos tinham coragem. Ao invés de fugirem, tentaram parar a Feiticeira. Ao ver que pelo menos quinze narnianos vinham em sua direção, Jadis pegou uma espada que estava fincada no chão e começou a golpear um por um, alternando com a varinha. Cada um deles virou estátua. A habilidade que a Feiticeira mostrava espantava até mesmo os fiéis que a conheciam há mais tempo. Mas apesar disso, os narnianos continuavam a atacá-la. Jadis apenas avançava e continuava a mostrar o poder da varinha. Em pouco tempo, haviam mais de duzentos narnianos em pedra, e em menos de uma hora já eram pelo menos setecentos. Quando ela viu que estava próxima de Otmin, resolveu dar mais uma ordem.

- Avancem sobre os líderes. Não deixem que eles se reagrupem. - com essa ordem, o minotauro deu mais um grande mugido, e conduziu os fiéis de forma que os narnianos cada vez mais se dispersassem, havendo mais ataques onde havia lideres narnianos, enquanto que Jadis continuava transformando-os em pedras.

General Sperdan até pensou em mandar todos recuarem, porque muitos estavam morrendo ou virando pedra e precisava ganhar tempo para um novo plano. Mas cinco de seus capitães o impediram, dando a entender que a última coisa que os soldados queriam era recuar. Pelo que Sperdan viu da garra dos narnianos na luta, não duvidou que fosse verdade. Quando ele eliminou mais um inimigo, outro capitão veio até ele.

- Senhor, seria melhor os arqueiros acertarem os gigantes dela!

- Não temos mais arqueiros. Veja. - apontou o General para o lado onde ainda havia uma luta entre os soldados narnianos e os anões traidores. Aquele capitão, que ainda não havia notado, ficou surpreso.

- Vamos ter que continuar sem os arqueiros! - completou o General, já correndo para atacar um minotauro que vinha na direção dele.

Nedamus estava com muito trabalho. Era o esforço em atacar os inimigos e ficar o tempo todo com a atenção voltada para Óruns. O sábio centauro sabia que algo iria acontecer com seu discípulo, tanto que procurava manter sempre uma posição próxima à ele. Óruns estava se saindo muito bem em combate, para um centauro que ainda não havia participado de uma batalha. Ele estava pouco ferido e mantinha o vigor e a determinação dos centauros. Quando Óruns menos esperava, se viu perto da Feiticeira Branca, que estava transformando em estátuas um grupo de touros com cabeça de homem. O centauro logo pensou que seria capaz de derrotar a Feiticeira. De repente, ele olhou para o outro lado e viu a expressão séria de seu mestre, olhando para ele. Os dois cruzaram os olhares como se comunicando numa língua que somente eles entendiam. Óruns balançou a cabeça, numa quase reverência, e este foi o momento que Nedamus percebeu o que seria feito. No instante que Óruns pôs-se a correr atrás de Jadis, Nedamus passou por cima de quem estivesse no caminho, chamando os gigantes.

- Griamones! Runtamarco! Agora... - os dois gigantes ouviram a voz do velho centauro, e correram atrás dele, como era o pedido.

O que aconteceu foi tão rápido, que não caberia colocar em palavras. Mas precisamos tentar: Nedamus corria ferozmente na direção de seu aprendiz. Ainda viu quando Óruns avançou sobre a Feiticeira e levantava a espada contra ela, mas foi impedido por um empurrão dele. Óruns caiu sem entender o que aconteceu e, quase ao mesmo tempo, os dois gigantes o levantaram, carregando-o para longe dali, sem ao menos importar o quanto era difícil e incômodo carregar alguém que era metade cavalo e metade homem. Quase não deu tempo de Óruns ver o que aconteceu nesse momento.

Depois de empurrar Óruns, Nedamus avançou sobre a Feiticeira, levantando as patas da frente e levando a enorme espada contra Jadis que, em um movimento mais rápido ainda, levou sua varinha contra o peito do centauro, transformando-o em mais uma estátua de pedra. Por causa da posição que tomou, o corpo do sábio centauro caiu, se partindo em vários pedaços.

- Nãaaaao! - gritava Óruns, que estava sendo levado pelos gigantes, ao ver o fim do mestre de tantos anos. Jadis olhou para o dois gigantes carregando Óruns e apontou para eles, indicando aos seus arqueiros o que deviam fazer. - eles tinham que abater os dois gigantes. Até tentaram, mas como eles corriam muito rápido, não conseguiram acertar o suficiente.

Enquanto corriam, os dois gigantes passavam por cima de todos que estavam na frente. Um dos atropelados foi um ciclope que lutava com um grifo, que de relance viu que aqueles gigantes carregavam Óruns. Mas ele não teve tempo de pensar em nada, porque de repente alguém segurou na sua pata traseira e, pensando que fosse algum inimigo, levou a lança que tinha nas mãos na direção do estranho, mas segurou porque quem o tocava era Lorde Doran, que estava caído e gravemente ferido.

- Senhor, vou tirá-lo daqui. - disse o grifo, recompondo-se do susto. Ofegando, Lorde Doran disse a ele.

- Não... Precisa levar o General... para o castelo... Era... um pedido... da Rainha... - e baixou a cabeça, não suportando mais a dor.

O grifo sentiu sua cabeça rodar. Se viu numa missão que parecia impossível de cumprir. Primeiro que era um último pedido de um Lorde a quem todos em Nárnia tinham grande apreço. Depois porque esse mesmo pedido era da Rainha que era a mais louvada no reino. E onde iria encontrar o General no meio daquela bagunça? Sem pensar muito, o grifo bateu suas asas e voou sem rumo, à procura de Sperdan. Tentando fugir das flechas, ainda viu a Feiticeira transformar outros narnianos em pedras – parecia que já eram a metade do exército. Voou algum tempo ainda, procurando, até que reconheceu o General no meio de sete minotauros que o golpeavam. Ele chegou no momento que Sperdan recebeu um golpe que o fez cair, e num voou rápido e rasteiro, conseguiu tirar o General do meio dos fiéis da Feiticeira. Por conta disso, foi atingido por flechas de uns gnomos próximos. Ignorando a dor, o grifo continuou seu vôo, levando o General já desmaiado, em direção a Cair Paravel.

Capítulo 6: Levante Narniano


Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.
Eu não havia desistido desse blog. Me desculpem, por favor. Era pra eu continuar com as ilustrações mas não tive tempo mais. Vou terminar de postar e, quando puder, depois farei o restante dos desenhos. ;)


Que a Feiticeira Branca era bela, ninguém duvidava disso. Nem mesmo aqueles que há muito tempo a seguiam e não tinham visto muitas mulheres para comparar. Seu corpo alto e esguio tinha contornos suaves que fariam outras mulheres tremerem de inveja. Mas a Feiticeira era tão bela quanto má - isso era outra coisa que ninguém duvidava. Porque ela voltava para o acampamento trazendo o rosto sereno e um sorriso malicioso, com toda tranqüilidade dos passos, o que faria qualquer um imaginar o que ela estaria tramando. Ao passar por entre os fiéis, estes lhe prestavam reverência e abriam espaço para que passasse. Quando foi recebida pelo minotauro Otmin, ouviu a notícia que estava esperando justamente para aquele momento.
- Chegaram, minha Rainha. – disse ele com uma habitual reverência. – Já passei suas instruções a todos.
- Que ótimo. – respondeu ela. – Planejo atacar ao amanhecer, mas fique atento para um ataque deles a qualquer instante.

Até aquele momento o minotauro só sabia do encontro. Não sabia o que tinha acontecido na caverna, por isso ficou tentando entender o que a Feiticeira quis dizer com aquelas palavras, enquanto ela passava por ele diretamente para a tenda dela.

Mas na floresta mais adiante, a tristeza tomava conta dos seis que saíram da caverna. General Sperdan, Lorde Doran, Nedamus, Óruns, Graarnes e o anão Trinkin tinham ficado para fazer guarda para a Rainha Cisne Branco, antes do fatídico encontro com a Jadis, e receberam em troca uma missão nada agradável. Juntos imaginavam o peso da notícia do desaparecimento da Rainha para o exército narniano. Andavam de cabeça baixa e com um silêncio de morte, até serem recebidos pelo urso Caixalote.
- General, foi bom terem chegado agora.
- Meu bom urso. Se não for importante, é melhor deixar para uma outra hora. – disse o general.
- Receio que seja importante, meu General. Tem uns visitantes esperando pra falar com o senhor. Vieram de muito longe. – respondeu o urso, em tom preocupado.
- De quem você está falando? – perguntou Lorde Doran, lembrando dos soldados da Arquelândia que estavam a caminho.
- É melhor que vejam. Estão escondidos naquela parte da floresta. – o urso apontou para um canto afastado, com umas árvores enormes, e continuou a falar. – Disseram que têm informações muito importantes sobre a Feiticeira.
- Você disse “escondidos”? – perguntou o General, mostrando no rosto uma extrema incredulidade.

Enquanto isso, na tenda da Feiticeira, Ginnarbrik entrava num sobressalto, querendo chamar a atenção para uma coisa que ela estava esperando já há algum tempo.
- Minha Rainha, fui avisado que está na hora daquilo que planejamos.
- Creio que o momento não está para enganos. Você tem certeza disso?
- Sim senhora. Estou bastante certo. Eles subiram pelo noroeste e estão quase chegando. Há tempo de nós os encontrarmos antes que cheguem ao exército narniano e poderemos voltar antes que anoiteça.
- Excelente. – respondeu ela. – Então vamos agora, sem perda de tempo.

Jadis pegou mais que depressa sua varinha e alguns outros pertences.
- Fique com isso. – disse ela entregando a Ginnarbrik uma espécie de chicote. – Pode ser que você precise usá-lo mais tarde.

E os dois saíram rapidamente da tenda. Jadis deu mais instruções a seu comandante e partiu, na companhia do anão.

Mais adiante, perto do exército narniano, General Sperdan seguia com Nedamus em direção aos visitantes. Havia dado instruções a Lorde Doran e a Óruns de informar aos soldados o que havia acontecido até então. Andavam apressados pelas árvores, pois esperavam que qualquer informação a mais sobre a Feiticeira seria de muita valia. Chegaram a um canto mais denso, onde fora indicado pelo urso, e se depararam com uma grande surpresa.
- O que é isso? Uma armadilha? – perguntou o General, empunhando sua espada, e olhando atônito para os gigantes que apareciam um a um. Nedamus segurou o braço dele, afim de que pudessem saber o que se passava quando o gigante mais próximo disse num tom benevolente.
- Calma, amiguinho. Nós viemos em paz. Nem todos os gigantes são fiéis à Feiticeira.
- Mas então, porque estão escondidos? – o General quis saber.
- Nos escondemos porque a Feiticeira não sabe que estamos aqui. – respondeu o gigante tentando alcalmar aos dois. Sperdan sentiu seu coração batendo mais forte, mas já estava se acalmando. Porém não conseguiu abrir a boca para dizer mais nada. Nedamus tomou a dianteira.
- Queridos amigos. Como podemos ajudá-los? – perguntou o centauro e para supresa dele o gigante respondeu.
- Nós que perguntamos isso, centauro. Vocês estão em grande dificuldade e estamos aqui para oferecer nossa ajuda.
- Como assim grande dificuldade? – o General disse de súbito, como se estivesse acordando de um desmaio repentino. - Está falando da Feiticeira? Nosso exército pode vencer os seguidores dela.
- Não, não pode meu amigo. Jadis tem seguidores em número que vocês nem imaginam.
- Não creio. Deve ter cerca de oito mil com ela. De qualquer forma, estamos preparados. – retrucou Sperdan. Nedamus prestava bastante atenção aos olhos do gigante.
- Não são apenas estes. Estivemos seguindo a segunda tropa dela, que estão em torno de dez mil. – os olhos do General e de Nedamus se levantaram numa preocupação mútua. – Neste momento já se juntaram aos outros. Haviam ficado porque se encarregaram de transportar o restante das armas.
- Não é possível... – Sperdan olhava pra baixo como se estivesse procurando por algo perdido. Nedamus novamente tomou a palavra.
- Não quero parecer ingrato, meu bom gigante. Mas porque vocês vieram?
- É uma longa história, meu amiguinho.
- Pois nos conte. É bom que estejamos informados disso também. Diga-nos os nomes de todos.

E foi uma longa apresentação. Havia muitos gigantes espalhados na segurança das árvores. Estavam todos bastante apreensivos pelo tempo que estavam perdendo naquela conversa. Logo que Nedamus ficou sabendo do nome de todos, o gigante Areone que os liderava começou a contar a história deles.
- Há algum tempo a Feiticeira partiu de Harfang. Não soubemos qual o destino, mas sabíamos que ela voltaria. Nossos antepassados pensaram que ela seria boa conosco, mas com o passar dos anos ela mostrava a maldade que havia consigo. Enquanto ela estava fora, nos esquivávamos dos fiéis dela, pois estávamos tramando uma revolta. Só que ela voltou antes do esperado. Não soubemos como, mas ela descobriu nosso plano e eliminou nosso líder, fazendo dele uma grande estátua de pedra.
- De pedra? – interrompeu o General.
- Sim. – disse um outro gigante. – Depois que ele virou pedra, nós fugimos. - Areone retomou a palavra.
- Mas ao contrário do que pensamos, ela não nos perseguiu. Quando menos esperávamos, percebemos que ela havia saído de Harfang levando uma parte dos seus seguidores.
- Como você acha que ela transformou seu líder em pedra? – perguntou o General, mostrando um profundo interesse.
- Acreditamos que seja uma varinha que ela trouxe de onde esteve. – respondeu Areone para o espanto do General e do centauro que se entreolharam fazendo-se entenderem. – De qualquer forma, só esse poder já dá a ela uma força sem igual.
- Então deve ser mesmo essa varinha. – afirmou Nedamus - Ainda há pouco nós a vimos carregando uma varinha, depois que ela... – as palavras se perderam na garganta do centauro no mesmo momento que ele baixou a cabeça e suspirou, junto com Sperdan. Os gigantes olhavam para eles na expectativa de uma notícia realmente ruim.
- Aconteceu alguma coisa com a sua Rainha no encontro com ela? – perguntou Areone.
- Vocês sabiam do encontro? – levantando a cabeça, o centauro quis saber.
- Sim. – respondeu o gigante. – O urso nos avisou quando conseguimos falar com ele.
- Nossa Rainha desapareceu no encontro com a Feiticeira. – disse o General, ainda lamentando tristemente. - Não sabemos se ela foi morta ou se foi levada pra algum lugar. Só sabemos que a caverna tinha somente uma entrada e a Feiticeira estava sozinha com nossa Rainha e nosso Lorde Isarim. O pior da história é que apenas ela saiu da caverna. Ele foi transformado em pedra e, quando chegamos, estava em pedaços.

Um sentimento de profunda tristeza invadiu o rosto dos gigantes e Areone levou as mãos ao rosto como se tivesse perdido algo bastante precioso. O General e Nedamus não compreenderam muito bem aquela reação, mas antes que perguntassem, o gigante começava a falar, já com os olhos vermelhos e lacrimejantes.
- Então é isso... Nós falhamos. Era isso que deveríamos tentar evitar. Foi pra isso que fomos mandados.
- Por favor, nos explique. – disse Nedamus, num misto de indignação e preocupação. – Mandados por quem?
- Enquanto fugíamos da Feiticeira, pensando que ela iria nos perseguir, encontramos um Leão. Mas ele não era um Leão comum.
- Como ele era, então? – Nedamus já esperava a resposta que o gigante iria dizer.
- Ele era enorme e as jubas dele pareciam brilhar. De fato, só de vê-lo, nos sentíamos muito bem.
- Aslam. – sussurou o General para Nedamus, que assentiu com a cabeça. Os gigantes murmuravam concordando com que Areone havia falado sobre o Grande Leão. E o gigante continuou falando.
- Ele nos pediu pra vir até Nárnia, dizendo que vocês corriam risco de perder um grande tesouro. Disse que tínhamos que avisar a vocês que precisariam evitar a Feiticeira a qualquer custo. Só que chegamos tarde demais.
- Evitar? Seria o encontro? – perguntou o General, meio confuso.
- Certamente que sim. – respondeu Nedamus, com ar sábio, se virando de novo para o gigante. – Porque você diz que chegaram tarde demais? Não estavam seguindo a tropa da Feiticeira?
- Estávamos. Mas quando avistamos os montes mais adiante, resolvemos vir pelo outro lado do que eles seguiram, que nos pareceu mais rápido. Só que encontramos armadilhas quando chegamos à floresta. Devem ter sido feitas pelos seguidores dela.

Um sentimento de culpa passou pelo rosto do centauro. Lembrou do plano das armadilhas e dos castores.
- Não, meu caro amigo. Fomos nós. Pedimos aos nossos amigos castores que fizessem as armadilhas para atrasar a tropa da Feiticeira.
- E deu resultado? – perguntou um outro gigante, atrás de Areone.
- Deu tempo de nosso exército chegar até aqui. – respondeu o General.
- Elas nos atrapalharam também. – concluiu Areone. – Por causa delas tivemos que dar uma volta longa, passando por um lugar estranho, com umas criaturinhas esquisitas.
- O vale dos paulamas. – disse Nedamus. – Mas acho que não haveria muito que fazer. O encontro tinha que acontecer, nossa Rainha precisava tratar disso.
- Mas você não entendeu meu amiguinho. – Areone se mostrava mais triste agora. – O que a Feiticeira quer é deixar vocês sem líderes, justamente para ficarem mais fracos. Dizem que ela aprisiona as pessoas em outras dimensões. Já ficamos sabendo de muitos dos nossos que foram desaparecidos misteriosamente pelas mãos da Feiticeira. Seja o que for que a Feiticeira fez com sua Rainha, não foi feito somente porque ela achava melhor assim.

Nedamus baixou a cabeça pensativo. Certamente essa não era uma explicação muito comum, mas era a mais plausível para o momento. Fora que era a única que eles tinham. Mas ele e o General concordavam que, em se tratando da Feiticeira, eles não veriam mais a Rainha viva novamente. Praticamente o mesmo pensamento se passou pela cabeça do General, que resolveu perguntar para Areone.
- Quantos de vocês vieram até aqui?
- Nós somos noventa e dois gigantes.
- E quantos a seguem? – perguntava Nedamus dessa vez.
- Mais de três mil.

Uma pontada se deu no peito do General, que via a necessidade de mais tropas. Mas sabia que não podia perder as esperanças. O gigante continuou falando para eles.
- Muitos que vieram conosco voltaram para Harfang por causa das armadilhas e só sobramos os que vocês vêem aqui. Eles ficaram com medo que fossem de uma ação da Feiticeira.
- Eu compreendo. – disse o centauro. - E agradecemos a todos pela boa vontade de ajudar. Sei que o General e eu concordamos que precisamos de toda ajuda possível, e vocês chegaram a uma boa hora. – Sperdan concordava com a cabeça.
- Precisamos reunir nosso conselho. Vocês precisam participar. – dizia o General. – Vou trazê-los até aqui.

E Sperdan seguiu para o exército para convocar os capitães e os líderes narnianos enquanto que Nedamus ficou conversando com os gigantes, pois estava pedindo a eles um favor que dizia ser muito importante.

Só que em outra parte da floresta, pouco distante dali, um grupo de anões seguiam uma marcha em direção ao exército de Nárnia. Estavam carregando armas que haviam feito para os soldados e estavam todos contentes, cantando juntos uma canção que animava a caminhada. Até que pararam quando foram surpreendidos por um outro anão.

Era Ginnarbrik. Estava postado em cima de um tronco caído de uma árvore e esperava justamente por aqueles anões. A Feiticeira estava mais adiante, nas árvores, apenas para assistir à conversa deles.
- Quem é você? – perguntou o anão mais a frente. – Espere, você é aquele anão que nos contaram...
- Não sei o que contaram de mim, mas isso não interessa agora. Venho até vocês para que tenham a oportunidade de fazer parte dos seguidores de minha Rainha. – disse Ginnarbrik para o espanto de uns e murmúrio de muitos.
- Rainha? Com certeza você não está falando de nossa Rainha Cisne Branco. Se for aquela feiticeira, pode esquecer.
- É da Rainha Jadis que falo mesmo. – um calafrio passou por aqueles anões que estavam mais próximos de Ginnarbrik. – Ela veio até Nárnia para mudar o rumo das coisas. Esse é o tempo em que nós anões seremos muito importantes.
- Do que você está falando? - perguntava um outro anão, sem que nenhum deles ainda soubessem que a Feiticeira estava próxima. – Ela só vai trazer maldade para nós.
- Estão enganados, meus irmãos. Se estivermos ao lado dela, nossa vida será muito melhor do que é agora. Devem seguir o caminho da Feiticeira ou, então, não sobreviverão a essa guerra.

Os anões se entreolharam nervosos, mas aquele que estava na frente se adiantou.
- Esqueça. Ninguém está reclamando da vida que temos aqui. E quem você acha que é para nos dizer o que fazer? Logo você, um anão que renegou Nárnia e está aí, todo diferente.

Essas palavras ecoaram nos ouvidos de Ginnarbrik trazendo para ele uma raiva que não conseguiu conter. De fato, aquele anão estava certo. Ele não era o mesmo desde que destruiu a árvore que protegia Nárnia. Sua fisionomia era mais forte, suas roupas eram negras e seu cabelo era mais escuro do que antes. Mesmo assim, não aceitaria que outro anão falasse desse jeito com ele. Num movimento apenas, pegou o chicote que a Feiticeira lhe dera antes, levantou ao ar e chicoteou uma enorme pedra que estava ao lado dos anões fazendo com que esta, inexplicavelmente, se partisse em duas. Os anões se retraíram, receosos, e Ginnarbrik olhava para o chicote, tentando não mostrar o próprio espanto com que fizera. Logo, ele voltou à realidade e, cheio de si, encarou os anões mais uma vez para enfim dar a cartada final.
- Esse é só um parte do poder que ela deu a mim. Eu poderia muito bem ter feito isso com vocês agora.
- os anões murmuravam espantados, mas nenhum deles conseguia pensar em nada. Estavam muito nervosos e, para completar, todos ouviram latidos e uivos mais adiante. Ginnarbrik olhou para trás lembrando da Feiticeira e pôs-se a correr na direção dela, seguido pelos outros anões, para ver o que estava acontecendo.

Aconteceu que, enquanto Ginnarbrik conversava com o grupo de anões, a Feiticeira ouvia atentamente a tudo e esperava a hora certa de aparecer. Só que havia um grupo de lobos e cães que rumavam também para ajudar os narnianos. Passavam por ali justamente naquele momento. Quando reconheceram a Feiticeira tentaram atacá-la, mas foi sem sucesso. Porque no instante que o primeiro pulava ao encontro de Jadis, esta se esquivou com muita destreza, e empunhou a varinha fazendo-a encontrar com o peito do lobo e transformando-o em pedra, que acabou batendo em uma árvore e se partindo em três ou quatro pedaços. Outros dois lobos mais valentes correram para ela, mas também tiveram fim semelhante. Os outros não sabiam o que fazer. Ficaram com medo de virarem pedra, mas não tiveram coragem de fugir e nem tentar nada. Jadis se virou para eles e falou como se estivesse ameaçando.
- Vejo que aqui há muitos lobos valentes. - olhando para os lobos que estavam a sua frente. Eles se entreolhavam muito nervosos e confusos. Ginnarbrik e o grupo de anões já estavam vendo tudo acontecer. Estes estavam bastante espantados com o que viram.
- Ouçam todos. Quero que me sigam. Ou então terão o mesmo destino desses pobres coitados. - disse ela, altiva como sempre, tanto para os lobos quanto para o restante dos anões. Ginnarbrik olhava para todos como se tivesse ganho uma grande batalha.

Mais tarde a noite caía com uma rapidez impressionante. A reunião do conselho se estendia mais do que todos esperavam, quase chegando até à madrugada. Nessa reunião, todos mostravam como o exército ficou apreensivo depois que receberam a notícia sobre a Rainha. Mas era de um consenso geral que não se podia perder as esperanças.
- Mas eles agora estão em maior número. - dizia Graarnes para o General.
- Sei que eles estão numerosos. Mas enquanto formos unidos, poderemos vencer.
- E o exército da Arquelândia está a caminho. Deve chegar logo. - lembrou Lorde Doran. - Sem contar que agora temos a ajuda de gigantes.
- Não estou dizendo que devemos desistir disso. Mas quais as nossas chances? - continuou perguntando o velho anão.
- Realmente não sabemos, meu bom amigo. - dizia Nedamus, com Óruns ao lado dele. - Mas como disse o General, precisamos ficar unidos para tentar a vitória.
Em pouco tempo deixaram a discussão de lado e estavam tomando planos e idéias para o ataque do dia seguinte. Quando a reunião terminou, foram descansar. Mas não aproveitariam muito, pois em poucas horas já iria amanhecer.

Quando o sol apareceu, Jadis já estava rumando para perto do exército narniano, seguida por grande parte dos seus seguidores. Todos haviam entendido as instruções dela e fariam tudo conforme as ordens do minotauro Otmin, que seguia ao lado da Feiticeira e Ginnarbrik. Os fiéis da Feiticeira andaram bastante, derrubando árvores e fazendo muito barulho, fazendo com que fossem ouvidos de longe. Quando chegaram ao descampado, se agruparam em um ponto depois da floresta tendo uma boa vista do exército narniano. Aguardavam o momento certo de atacar que seria dado com um sinal de Jadis.

Do outro lado do descampado, os narnianos já estavam a postos. Esperavam pelo General para dar a ordem de atacar. Do ponto onde estavam ouviram toda a algazarra dos seguidores da Feiticeira. A coruja Lufânia, que embora meio vesga, tinha uma ótima visão, estava logo à frente do exército, ao lado de Graarnes e comentou com ele quando reconheceu Ginnarbrik.
- Graarnes, consegue ver adiante? Ao lado da Feiticeira... É o Gunnar.
- Daqui não dá pra ver muito bem, minha amiga. Mas se você diz que é ele, então eu acredito.
- Ele está muito diferente, mas sei que é ele mesmo. O rosto dele é inconfundível. Vou ficar de olho nele. - disse a coruja, fazendo uma cara de quem não estava pra brincadeiras.

Nesse momento passaram por eles o General Sperdan, Nedamus, Óruns, Lorde Doran e mais seis capitães do exército. À exceção dos centauros, montavam seus cavalos prontos para a guerra. Passavam em revista à tropa e o General parou bem no meio deles para fazer um discurso antes do ataque. Levantou a voz para que muitos o ouvissem.
- Narnianos. Essa é a hora da verdade. Mais adiante temos uma batalha que não podemos perder. Não sei bem o que significa uma derrota para nós, mas com certeza, irá culminar no domínio daquela malvada Feiticeira. Eu não quero isso. Quero ver Nárnia livre como sempre foi. Quero andar pelos bosques e saber que quem reina aqui é alguém justo e bondoso. Quem conheceu nossa Rainha Cisne Branco sabe disso. Ela era a melhor pessoa do Reino, e agora desapareceu por causa daquela que lidera o outro lado. Não sei dizer a vocês se ela a matou ou se fez outra coisa, mas não guardo esperanças de ver minha Rainha novamente. Precisamos fazer a Feiticeira pagar por essas maldades, antes que ela consiga tomar o reino. Só sei que eu não quero viver enquanto a Feiticeira estiver reinando em Nárnia. QUEM ESTÁ COMIGO?

Muitos levantaram uma das mãos armadas e ouviu-se um grito praticamente único entre os soldados.
- EEEEEUUUUU!
- QUEM QUER VER NÁRNIA LIVRE? - continuou o General, para outra reação do exército.
- EEEEEUUUUU!

O General virou seu cavalo, sendo acompanhado por aqueles que o ladeavam, empunhou sua espada, levantando-a para cima e gritou para o exército.
- POR NÁRNIAAA!

Os soldados o acompanharam.
- POR NARNIAAAAAAAA!
- PELA RAINHAAA!
- PELA RAINHAAAAAAAA!

Com esse grito, o General fez seu cavalo correr em direção dos seguidores de Jadis, sendo seguido por um enorme grupo de soldados. Em pouco tempo entrariam em confronto direto com os fiéis da Feiticeira, que estava olhando atenta para o lado dos narnianos. Ela tinha tudo em mente. Só esperava mesmo a hora certa de agir.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Capítulo 5: O Mistério da Rainha





Avisos:

Os personagens principais e os cenários pertecem ao grande C.S.Lewis.
O Capítulo é meio longo porque o original eu dividi em três partes por causa dos assuntos. Mas é interessante. Confiram...



A Grande Profecia de Nárnia

Capítulo 5: O Mistério da Rainha



Antes de começar a contar mais uma passagem dessa história, precisamos de um esclarecimento. Se os registros históricos do nosso mundo, por vezes, são incompletos ou contraditórios, os de Nárnia não poderiam ser diferentes. Há relatos de que reinaram duas pessoas com o nome de Cisne Branco, em épocas diferentes. Se são elas as mesmas pessoas, não posso garantir, pois sobre o segundo reinado não há muitos registros. Na verdade, quase nada explicando. O pouco que existe vem de tesmemunhos de narnianos, alguns um tanto duvidosos. Além de que no primeiro reinado, o que consta nessa história, há um grande mistério acerca da Rainha Cisne Branco. Como não há nada que esclareça esse mistério, existem muitas suposições e divagações. O que sei que é houve sim, um encontro dela com a Jadis, que vocês ficarão sabendo mais adiante, pois nesse momento, a Feiticeira Branca já partiu de Harfang levando consigo seu exército e planejando com o comandante Otmin a dominação de Nárnia.
Mas em Nárnia ainda havia muita movimentação por causa das notícias recentes. Em todo lugar que os esquilos e pássaros informavam sobre o acontecido, a notícia era recebida com espanto ou incredulidade. Também foi assim em Cair Paravel. General Sperdan, que estava como regente na ausência da Rainha, assim que recebeu a notícia, tomou duas providências imediatas. Mandou uma mensagem para a Rainha Cisne Branco, através de uma águia, e mandou reunir o exército do castelo. Mas para surpresa dele, a águia retornou antes que entardecesse aquele dia, pois o navio Grande Luar, que transportava a Rainha, já estava regressando ao Reino e atracaria no dia seguinte, provavelmente. A resposta que recebeu trazia um elogio a antecipação que ele tomou e um pedido que ninguém ficou sabendo o que era. O mais importante estava na resposta que a Rainha enviou através do grifo, que chegou mais rápido que a águia de Sperdan, a Nedamus, o sábio centauro. Ele leu o pergaminho que recebera e imediatamente tomou as providências.
Logo mais a noite, estavam todos reunidos. Todos os castores que Nedamus mandou que chamassem estavam aguardando que ele terminasse uma reunião com os outros centauros. Eram cerca de trezentos castores e todos estavam se perguntando o motivo de terem sido chamados. Mas não demorou muito para que o imponente centauro aparecesse na companhia de seu discípulo, Óruns. Trazia o rosto sereno e o pergaminho com a resposta da Rainha na mão direita. Ao ver tantos castores reunidos, Nedamus começou a falar.
- Valentes castores, obrigado por comparecerem. Como devem saber, Nárnia precisa de todos nós. A árvore que garantia que a maldade não entrasse em Nárnia foi destruída e precisamos nos cuidar para que não venha acontecer o pior.
- Sim, sabemos disso, grande Nedamus. - falou um castor que estava mais a frente, devia ser o lider deles. - Mas em que nós podemos ajudar? Numa guerra tudo bem, mas há um outro motivo para termos sido chamados em separado?
- Nossa Rainha toma decisões sábias e tenho certeza que dessa vez também acertou. Ela pede que todos os castores que puderem, sigam até os limites de Nárnia no norte e façam uma quantidade suficiente de armadilhas para atrasar a tropa da Feiticeira. Assim como eu, ela acredita que, se houve mesmo um encontro do anão com a Feiticeira, tudo não passou de um plano dela para dominar Nárnia. Enquanto vocês preparam nossa primeira defesa no norte, o restante de nós vai preparar a nossa defesa daqui.
- Você disse "tropa"? Então é verdade que ela montou um exército? - perguntou aquele castor tendo atrás de si os murmúrios dos outros.
- Sim, é verdade. Assim, nossa Rainha escreveu na carta: - Nedamus abriu o pergaminho e passou a ler um trecho da resposta. - "Cair Paravel sempre se manteve informado todos esses anos das ações da Feiticeira, justamente porque o próprio Leão alertou para perigos que ela traria vindo para Nárnia. Nesse momento posso confirmar que ela possui sim, um exército, mas não sabemos quantos a seguem. Regressando à Nárnia, a Feiticeira não irá perder tempo em querer destruir tudo que tanto amamos. Antes de qualquer coisa, reúnam todos os castores que puderem ajudar e os levem para os limites do norte para colocarem armadilhas e artifícios entre as árvores da floresta e os vales que ela provavelmente poderá passar. Isso não vai segurá-la, mas vai retardar tempo suficiente para prepararmos nossa defesa.". - uma breve pausa, e o centauro continuou: - E no final ela escreveu: "De qualquer forma, fico feliz por saber que Nárnia possui habitantes corajosos e preocupados com o bem-estar do Reino. Esse certamente é um fato que será lembrado durante vários anos, aconteça o que acontecer. Peço a todos que tenham força e fé, porque o Grande Leão ficará feliz em saber que o povo de Nárnia não se entrega diante do inimigo”.
E Nedamus terminou de ler o trecho, abaixando e enrolando o pergaminho, com os olhos dos castores na direção dele, absortos, como se aquilo fosse uma verdade universal. Depois de alguns segundos de silêncio, o castor que estava na frente perguntou ao sábio centauro.
- E você, Nedamus? Acha que isso vai realmente ajudar?
- Estou certo que sim. Os castores são habilidosos construtores e têm idéias que são bastante aproveitáveis. Se atrasarmos a Feiticeira, ela vai encontrar um povo preparado e unido para defender Nárnia.
- Então... - o castor se virou para os outros e perguntou em voz muito alta. - Quem vem comigo?
- EEEEEUUUUU!!! - todos levantaram as mãos e gritaram quase que em uma só voz. Com isso, o castor se virou para Nedamus novamente e perguntou.
- Quando partimos?
- O mais rápido possível. Preparem o que puderem levar na viagem, Óruns vai com vocês. Devem fazer conforme o seguinte plano...
E Nedamus mostrou a eles um mapa de Nárnia onde podia-se ver três pontos marcados próximos a uns morros. Segundo ele, seriam os lugares mais prováveis que serviriam de passagem para a tropa da Feiticeira. Também deu outras instruções e sugestões para os castores se organizarem na tarefa. Todos eles entenderam que seria importante que fizessem tudo certo. Em pouco mais de duas horas, todos os castores já estavam seguindo viagem na companhia de Óruns rumo ao norte, levando todo o material que necessitariam e alimentos. Descansariam no meio da madrugada e depois retomariam o trajeto, planejando toda a sorte de armadilhas para dificultar a passagem dos seguidores da Jadis. No meio do caminho, solicitaram a ajuda de algumas toupeiras, que seriam muito úteis em escavações. As que podiam, se juntaram ao grupo com toda a animação possível.
Mas no extremo norte de Nárnia, alguns grifos, águias e gaviões fizeram vigias em diferentes pontos para ver alguma coisa que indicasse que a Feiticeira estava chegando. Numa determinada tarde, um gavião viu que em uma certa distância havia uma grande movimentação e voou pouco mais próximo para se certificar. Ao ver quem eram, não teve dúvidas. Voou mais rápido que pôde para o vale dos centauros para avisar Nedamus. Só que no caminho encontrou a caravana dos castores e avisou Óruns sobre o que viu, retomando seu caminho logo em seguida. Isso fez com que os castores se apressassem ainda mais. Graças ao aviso, os castores chegaram rápido. Ao cabo de dois dias já estavam nos pontos marcados e já haviam começado com a tarefa combinada. Enquanto as toupeiras se encarregavam em fazer vários buracos para as armadilhas, os castores se encarregavam em usar as madeiras disponíveis. Óruns ajudava no que podia, carregando as madeiras que os castores necessitariam. Levaram um dia inteiro e uma parte de uma noite para que colocassem todas as armadilhas que planejaram. O trabalho deles tinha que ser rápido e conseguiram. Centenas de armadilhas foram colocadas em diversos pontos da floresta e próximo a elas. Logo que estavam todas prontas, eles seguiram viagem de volta para se juntarem ao outros narnianos. Só assim, sabiam eles, teriam mais tempo.
E estavam certos. A Feiticeira, orientada por Ginnarbrik, escolheu passar por entre dois montes, ao oeste da Charneca de Ettin, no extemo norte. Iria ainda demorar algum tempo para chegar lá, mas quando avistou-os, sentiu logo que já estava em Nárnia. Não tinha mais a árvore para bloquear a entrada dela no reino. Acompanhada de todos os seguidores, ela evitou paradas para descanso, justamente para não perder tempo. Podia-se ver a sede de poder nos olhos dela. Mas até que ela estivesse nas proximidades desses montes, a Rainha Cisne Branco já havia desembarcado e voltava a reinar em Cair Paravel. O exército estava aperfeiçoando os treinamentos e os narnianos estavam mais preparados. Mostravam todos mais disposição e confiança depois do regresso da Rainha, e nos salões do castelo havia muito comentário por conta disso.
Algum tempo depois, General Sperdan havia solicitado uma audiência com a Rainha logo após receber uma mensagem de Nedamus, que dizia que os narnianos estavam prontos a se juntar com o exército do castelo. Na carta, ele sugeria que o exército e os narnianos rumassem para o norte afim de interceptar a Feiticeira antes mesmo que ela entrasse de vez em Nárnia. Também avisava que a Feiticeira, junto com seguidores dela, estavam rumando para as montanhas do norte, justamente para as armadilhas que os castores fizeram. E nesse momento, o General cruzava os corredores de Cair Paravel ao encontro da Rainha, sendo acompanhado por Lorde Doran e Lorde Isarim, dois grandes conselheiros do reino. Lorde Doran era bastante influente em Nárnia, mas não tanto quanto Lorde Isarim, que era bem mais velho que os dois juntos. General Sperdan seguia no meio dos dois e abria a porta para a alameda que dava no jardim preferido da Rainha. E ela esperava por eles, trajando um logo vestido branco com detalhes dourados, tomando um chá na companhia de duas amas.
- General, Lordes. Que prazer em vê-los. - disse ela mostrando um sincero sorriso.
- Também estamos satisfeitos e vê-la, minha Rainha. Venho pedir permissão para levar o exército para o norte. Nedamus mandou notícias e sugeriu que no norte seria melhor para segurarmos a Feiticeira. - disse o General, entregando o pergaminho a Rainha. Ela abriu e começou a ler um trecho mas não terminou.
- Meu bom General, não precisa que eu autorize isso. Tem toda a autoridade numa hora dessas.
- Nedamus diz que ela está próxima das montanhas do norte. Vai passar justamente nas armadilhas que os castores montaram. - disse Lorde Doran.
- Então aquele anão está mesmo orientando a Feiticeira. Isso vai ser um problema para nós, General. - disse a Rainha, olhando de Lorde Doran para Sperdan, que respondeu.
- Nós só precisamos estar a um passo a frente dele.
- Mas ele conhece muito de Nárnia. É filho de Graarnes, que é muito nosso amigo. - reconheceu Lorde Isarim.
- Sei que Nárnia está segura com tanta gente disposta a ajudar, como temos agora. Lutar com essa Feiticeira não vai ser fácil. Já sabemos quantos são?
- São cerca de oito mil com a Feiticeira. - disse o General.
- Nisso temos a vantagem, Majestade. - Lorde Isarim comenta. - Só nosso exército é mais que esse número. E junto com os narnianos então...
- Mas como Nedamus diz na carta, números não vencem batalhas. - interrompeu Lorde Doran. - A Feiticeira Branca certamente tem um plano, e é muito esperta.
- Tem razão, Lorde. - disse a Rainha, mostrando preocupação. - Precisamos estar prontos para ela.
- Mas, Alteza, não está pensando em ir para o front. Está? - perguntou Lorde Isarim.
- Mas é claro que não. Eu sou uma dama, Lorde. Não me acostumo com essas guerras, que na verdade nem deveriam existir em Nárnia. Mas sei que elas são necessárias. Ou você acha que a Feiticeira Branca vai trazer um exército desse tamanho só para tomar chá conosco? - disse isso, levantando uma xícara do seu chá para tomar mais um pouco.
- Claro. Tem razão, Majestade.
- Então vamos. - disse Lorde Doran. - Temos um problema para resolver lá fora.
E os três fizeram uma reverência e se viraram para se retirar, mas a Rainha interrompeu.
- General, fique um pouco. Preciso conversar com você à sós. - e olhou para as amas de companhia, que entenderam o olhar e se levantaram para acompanhar os dois lordes.
A Rainha convidou o General para se sentar e esperou até que estivessem realmente sós. Depois de algum tempo, tomou mais um pouco do seu chá e começou dizendo a Sperdan.
- General, sabe que confio em você. É o meu mais fiel súdito e amigo.
- Sim, Majestade. Estou sempre à sua disposição.
- Preciso te contar uma coisa. Noite passada tive um sonho. Sonhei com nosso Grande Leão. Mas esse sonho me foi perturbador.
- Mas como um sonho com Aslam pode ser perturbador, minha Rainha? - perguntou o General, meio confuso.
- Vou te contar. Sonhei que eu estava em um bosque. Era muito bonito, mas não era Nárnia. E isso estava me incomodando. Eu caminhava por entre as árvores e não encontrava ninguém. Às vezes encontrava um ou outro lago e havia um rio que, por mais que eu procurasse, não conseguia saber de onde vinha e nem para onde seguia.
- Que estranho. - sussurrou Sperdan.
- O estranho é agora. - continuou a Rainha.- Andei muito até que encontrei uma parede de vidro enorme, e do outro lado estava ele. Mas Aslam estava enorme. Ou parecia que era gigantesco, ou eu e o bosque estávamos muito pequenos. Era como se eu estivesse dentro de uma caixa de vidro. Só que quanto mais ele me olhava, mais triste ele ficava, pois ele ouvia minhas súplicas. Eu pedia a ele que me tirasse de lá, mas ele não podia fazer nada.
- E depois? - quis saber o General.
- Depois eu acordei. E estou com esse sonho na minha cabeça até agora.
- Talvez deva consultar...
- Não vou consultar ninguém por causa desse sonho. - interrompeu a Rainha, olhando direto para os olhos do General. - É bobagem. Se esse sonho era pra me dizer alguma coisa, vou ficar sabendo com o tempo. Temos coisas mais urgentes para nos preocupar.
- Como queira, Majestade.
O General entendeu o que a Rainha quis dizer com isso, prestou uma reverência, e se retirou se encontrando logo com os dois Lordes que estavam a caminho da saída do castelo. O exército estava esperando lá e, quando os três chegaram, ficou acertado que o General seguiria com o exército e os dois Lordes ficariam com a Rainha.
E assim o exército de Cair Paravel rumou para o norte, para se encontrar com os narnianos. Traziam nas vestes, nas flâmulas e nos escudos algo diferente. Além da habitual figura do Leão em posição de ataque, havia uma enorme árvore fazendo fundo com este. Foi a forma que encontraram para homenagear a árvore que foi destruída recentemente e que protegia Nárnia. Foi um longo caminho e levaram dois dias até chegarem no local combinado, mas por onde passavam, ganhavam vivas e saudações de todos que encontravam pelo caminho, sendo que o mesmo aconteceu quando se encontraram com os narnianos que iriam para a batalha. Nedamus, acompanhado de seu discípulo, Óruns, foi quem recebeu o General.
- General Sperdan, que satisfação em vê-lo. Só gostaria que as circunstâncias fossem outras.
- Eu também, meu bom Nedamus. - respondeu o General. - Mas infelizmente não imaginamos que aconteceria assim.
Enquanto os três conversavam, os anões, faunos, texugos, centauros, ursos e os outros animais se misturavam ao exército, que em sua maioria era de descendentes de Filhos de Adão. Todos discutiam e trocavam informações. Mas enquanto eles se reuniam para seguir para as montanhas, a Feiticeira já chegara no vale que existe entre dois morros. Enquanto seus seguidores continuavam no caminho, ela contemplava o lugar. Viu um grande lago que havia na região e teve um pensamento que resolveu dividir com seu comandante e com o anão que a acompanhava.
- Ginnarbrik, Otmin. Esperem. - a Feiticeira fê-los parar e começou a dizer o que queria. - Marquem bem este lugar. Será aqui meu castelo.
- Mas e Cair Paravel? A senhora não se interessa por ele? - perguntou Ginnarbrik.
- Nem um pouco. - respondeu Jadis. - Por mim, será abandonado. Quero que construam meu castelo naquela pequena ilha no meio do lago, com grandes torres e um enorme portão de entrada. - e os dois olharam tentando acompanhar a imaginação da Jadis. Foi quando eles foram surpreendidos pelos gritos dos que seguiam à frente e viram que a caravana parou por algum problema. A Feiticeira foi a primeira a ir para o local e verificar o que estava acontecendo.
- O que há? Porque todos pararam? - perguntou ela em tom desafiador.
- São armadilhas, minha Rainha. Tem delas por todo lado. - respondeu um gnomo.
- Não podemos prosseguir assim. - disse também um ciclope.
A Feiticeira deu uma boa olhada no local e viu que havia muitos dos seus caídos em buracos, alguns presos nas árvores da floresta que havia próxima e um ou outro esmagado pelas grandes toras que os atingiram.
- Não é possível. - sussurrou a Feiticeira, quando Ginnarbrik e o minotauro chegavam próximos a ela. O minotauro fez um gesto que fez parar o restante do grupo que se aproximava e o anão reconheceu o que estava acontecendo.
- São armadilhas... Foram os castores.
- Como disse? - perguntou a Feiticeira quando ouviu as palavras do anão.
- Que essas armadilhas foram os castores que fizeram. Os cortes nas árvores são inconfundíveis.
- Então foi você que nos trouxe para essa armadilha? Como ousa? - a Feiticeira concluiu, levando a sua varinha para o pequeno pescoço do anão, que sentiu calafrios na espinha.
- Não, minha Rainha. Não imaginava que isso fosse acontecer. Jurei fidelidade à senhora. - disse Ginnarbrik tentando esconder sua tremedeira nas pernas.
- Então acha que isso pode ter sido obra apenas dos castores? - perguntou Jadis, um pouco mais calma, tirando a varinha de perto do anão.
- Não creio. Os castores devem ter feito isso a mando da Rainha Cisne Branco ou de outro alguém. Talvez de Nedamus, o centauro. Estou certo que há centenas dessas armadilhas, talvez milhares.
A Feiticeira olhou um pouco mais ao redor e, depois de alguns segundos de pensamento, se virou para o comandante Otmin.
- Comandante, depois que tomarmos Nárnia, você será proclamado General. E sua primeira tarefa será exterminar todos os castores que encontrar.
- Entendido, minha Rainha. - respondeu o minotauro.
- Por agora, quero que convoque alguns gigantes para desmontar essas armadilhas o suficiente para que nossa tropa passe para o outro lado da floresta. Vamos montar acampamento por aqui mesmo até podermos atravessar.
Logo que recebeu essas ordens, o Comandante Otmin tomou as providências. Ginnarbrik se encarregou do acampamento juntamente com outros lacaios da Feiticeira. Ela notou que aquelas armadilhas eram justamente para atrasá-la e pôs-se a pensar em outros planos, caso já tivesse alguém esperando por eles. Ela não foi muito longe, pois o exército junto com os narnianos já seguiam para aquela direção afim de surpreender a Feiticeira.
Naquele mesmo dia, a Rainha Cisne Branco resolveu fazer uma pequena viagem para visitar o local onde a árvore foi destruída, na companhia de Lorde Doran e Lorde Isarim e dos seus ajudantes particulares. Quando chegou, sua carruagem parou próxima, mas não encontrou ninguém, a não ser algumas dríades que estavam tristes ainda pela perda da árvore. De longe, sem descer da carruagem, a Rainha comentou com Lorde Isarim que estava ao seu lado.
- Só de olhar já sinto uma profunda tristeza. Nos acostumamos demais a ela. Ainda não acredito que foi destruída.
- Eu mesmo já sinto a falta dela. - respondeu o lorde, com pesar nos olhos.
- Essa Feiticeira deve pagar pelo que fez. Que nossas tropas consigam nos livrar dela de uma vez por todas.
- Vosso desejo também é o meu, Majestade. - disse o lorde, olhando para os olhos da Rainha. - Vai querer descer?
- Não me sinto bem. É como se um vazio se apoderasse de mim só estando nesse lugar. Vamos voltar para o castelo.
E com essa ordem, a comitiva da Rainha voltou para Cair Paravel, deixando para trás as dríades e as árvores do bosque ainda tristes.
Naquela época, o norte de Nárnia era bastante tomado por uma vasta floresta, havendo uma bem larga por entre os dois montes do norte, onde estava o acampamento da Feiticeira, e um descampado, que os narnianos escolheram para ficar. Se havia um lugar propício para uma batalha, seria ali. Enquanto Nedamus, Óruns, Graarnes e outros líderes narnianos se reuniam com o General Sperdan e seus capitães, numa espécie de conselho de guerra, alguns grifos e águias ficaram encarregados de sobrevoarem os montes do norte e obter informações, mas de modo que evitassem serem vistos. Mas não adiantou. Comandante Otmin, que por acaso olhava o céu em um certo momento, viu um grifo que sobrevoava o local, e acho estranho pois, naquele mesmo dia, tinha visto outros dois. O minotauro resolveu falar com Jadis, que estava descansando em sua tenda.
- Minha Rainha, estamos sendo observados. Já vi alguns grifos sobrevoando por aqui e acho que estão nos observando para informar a alguém.
- Será o exército deles? - perguntou a Feiticeira.
- Tenho certeza que sim. Talvez não estejam longe.
A Feiticeira se virou para Ginnarbrik e perguntou.
- O que há além da floresta? Essa que está com as armadilhas dos castores?
- Tem um grande descampado, duas cavernas e é caminho do rio que começa nesse lago no meio dos montes. - com a resposta do anão, a Feiticeira logo entendeu que, se os narnianos estivessem próximos, o local da batalha já estava escolhido.
- Comandante, temos como passar pela floresta sem sermos atingidos pelas armadilhas?
- Ainda não, minha Rainha. Mas talvez uns gnomos ou répteis possam passar por entre elas. - respondeu o minotauro.
- Perfeito. Vamos fazer o mesmo que eles. Mande alguns dos gnomos e répteis que puderem passar para espionar e nos trazer notícias. Assim será melhor para planejarmos tudo.
E o minoutauro cumpriu as ordens da Feiticeira. Mandou que aqueles, entre os fiéis, que pudessem se esgueirar por entre as árvores para evitar as armadilhas procurassem alguma informação útil. Assim se seguiu por quase dois dias. Ao mesmo tempo em que os narnianos tinham a localização exata da tropa da Feiticeira, ela também tinha informações precisas sobre o exército narniano. Logo o minotauro dava notícias à Jadis de que já poderiam passar pela floresta com segurança, ao mesmo tempo em que ela formulava um plano para colocar em prática. E quando o exército dela começou a atravessar por entre as armadilhas desmontadas, o minotauro mandou que a maioria, inclusive os gigantes, aguardasse no acampamento - fazia parte do plano.
Do lado narniano havia muita expectativa. Já sabiam que a tropa da Feiticeira estava avançando para eles e também tinham planejado os ataques. Enquanto aguardava, pouco afastado do exército, um fauno se sentou para descansar. Assim como aos outros estava apreensivo, que o fez quase não notar alguém o chamando de pai.
- Pai... - uma voz que para ele vinha dos arbustos continuava chamando, mas ele não conseguia localizar a origem. Apenas fazia idéia de quem era.
- Pai, sou eu. Estou aqui. - finalmente conseguiu distinguir um pequeno fauno, seu filho, e no mesmo instante mostrou extrema preocupação. Correu na direção do arbusto onde o faunozinho estava escondido.
- Tumnus, o que está fazendo aqui? É muito perigoso.
- Segui o exército. Estava te procurando. - respondeu o pequeno fauno.
- Mas o que está pensando? Não deveria estar aqui. E o seu irmão?
- Ele ainda está com Nanane e os filhos dela. Ele está em segurança, por isso eu vim. Quero ajudar a expulsar essa Feiticeira.
- Não, meu filho. Você é muito novo e precisa cuidar do seu irmão. Ele é mais novo que você, esqueceu? - Jiromnum disse isso, fazendo com que o pequeno fauno abaixasse a cabeça, meio que com vergonha do erro que cometera.
- Não senhor. Só achei que pudesse ser mais útil aqui.
- É muita coragem sua, fico orgulhoso disso. Mas será mais útil cuidando de seu irmão. Logo os seguidores da Feiticeira estarão aqui e devemos lutar com eles. Você deve sair logo.
Nisso, um grifo viu que o fauno não estava sozinho e foi conferir o que estava acontecendo.
- Algum problema, Jiromnum? Tumnus, que faz aqui? - perguntou o grifo ao notar o filho do fauno. Antes que Tumnus respondesse ao amigo, Jiromnum interveio.
- Ele seguiu o exército atrás de mim. Mas já o adverti que o lugar dele não é aqui. Será que você pode deixá-lo em um lugar seguro?
- Mas claro. - respondeu o grifo. - Vamos Tumnus. Você deve deixar esse local. – e o fauno acompanhou o grifo, levando um Tumnus triste embora, com lágrimas nos olhos e um aperto no coração.
Mas logo General Sperdan deu ordens para o exército narniano se posicionar. Estavam na parte sul do descampado, de modo que ficavam afastados do local onde os seguidores da Jadis apareceriam. Já sabiam que a qualquer momento iria acontecer. Óruns que estava em uma posição estratégica, viu que havia uma certa movimentação na floresta e fez sinal para o General e Nedamus informando, que fez com que os dois mandassem a primeira tropa os acompanharem. Pararam quando o General visualizou aquele grande minotauro no meio de tantos seres dos mais estranhos aos olhos narnianos. Eram gnomos, ciclopes, vampiros, minojavalis, ogros e outros animais perigosos. Ao contrário de Nedamus, não achou estranho os seguidores da Feiticeira estarem em menor número do que o informado. O General só pensava que somente a primeira tropa de Nárnia seria suficiente para aqueles que apareceram.
- Não entendo. Onde estão os gigantes? E a Feiticeira? - Nedamus disse pra si mesmo, notando algo estranho no ar. Logo a brisa fresca daquela tarde era cortada pelo grito do minotauro que estava mais próximo.
- Narnianos. Já sabem por que estamos aqui. - disse ele, segurando sua enorme clava, olhando direto para o General e Nedamus. - A minha Rainha manda que entreguem o Reino e essa guerra pode ser evitada.
O General se virou para Nedamus e comentou.
- Rainha? - depois, numa troca de olhar, os dois se entenderam. O General empunhou sua espada, se virou para a tropa e gritou.
- Narnianos... Vamos defender nossa terra! – o general fez seu cavalo galopar tendo atrás de si enorme número de narnianos gritando e prontos para a batalha.
Eram anões, panteras, ursos, texugos, cavalos, centauros, macacos, rinocerontes, tigres e outros animais. Todos misturados aos Filhos de Adão. Não demorou muito para o embate de forças. Os animais de Nárnia lutavam com vontade contra os da Feiticeira e os Filhos de Adão do exército mostravam muita destreza no trato com as armas. Parecia até que os seguidores de Jadis não estavam preparados. Mas era uma briga forte, que estava sendo observada e estudada de longe pela própria Feiticeira. Acompanhada por Ginnarbrik, que procurava informá-la de quem era quem entre os líderes de Nárnia, ela se posicionou em um lugar ermo da floresta para estudar a força dos narnianos. Prestava atenção a cada movimento e a cada grito de ordem que ouvia. Não deixou que a luta se estendesse por muito tempo. Em pouco mais de uma hora, fez sinal para o Comandante Otmin que, de longe, reconheceu a ordem para recuar com a tropa. E assim o fez. Deu um grito mandando que todos os fiéis da Feiticeira recuassem para o acampamento, deixando os narnianos ainda mais contentes, acreditando em uma primeira vitória.
Houveram poucas baixas entre os fiéis da Feiticeira. E entre os narnianos, quase nenhuma. Com o grito de guerra sendo repetido, os narnianos comemoraram o sucesso inicial. Mas nem todos pensavam assim. Nedamus discutia com o General sobre o primeiro embate.
- Nedamus, meu bom amigo. Fique feliz conosco. Isso vai ser bom para estarmos preparados para uma próxima batalha. - disse Sperdan, no meio dos narnianos.
- Discordo, General. A Feiticeira não mostrou nada da sua força aqui. Pra mim, ela planeja algo, e é algo muito sério.
- Depois conversamos então. Vamos nos reunir mais tarde. - respondeu Sperdan que se voltou para comemorar com a tropa.
Logo mais ao anoitecer, se reuniram antes do esperado. Pois um duende e dois ciclopes foram levar para o General um recado da Feiticeira. Ele leu esse recado para o conselho e ficou perturbado, pois não esperavam que Jadis fosse fazer tal pedido.
- Talvez queira se render. - disse Graarnes que tinha ouvido atentamente o General.
- Não creio. - disse Óruns. - Ela não precisaria da nossa Rainha para isso.
- Poderíamos ignorar esse pedido. - sugeriu o urso Caixalote.
- Começo a concordar com você, Nedamus. - disse o General. - Pode mesmo a Feiticeira ter um plano maléfico contra nós.
Nedamus fez sinal positivo com a cabeça para Sperdan, que perguntou.
- Mas por que será que ela precisa da nossa Rainha?
- Só há uma maneira de saber. - respondeu o sábio centauro. - Melhor deixarmos a decisão com a Rainha.
E o General deu ordens de mandarem um recado pelos mensageiros da Feiticeira, de que o pedido seria enviado a Cair Paravel, e mandou um grifo levar esse recado, e as notícias recentes, à Rainha Cisne Branco.
Todo narniano sabe de que os grifos voam mais rápido que os gaviões ou as águias. E o momento pedia muita urgência, o que foi entendido pelo grifo Solarus, que não demorou mais que um dia para chegar até a Rainha. Quando ela leu a mensagem, na presença de seus lordes, achou muito estranho.
- Por Aslam, será que terei que ir mesmo? - perguntou a Rainha, abaixando o pergaminho com a mensagem.
- Receio que sim, Majestade. - disse Lorde Doran, que foi retrucado pelo Lorde Isarim.
- Cavalhadas, não é possível. Vossa Majestade não precisa ir. Seja o que for que essa maluca queira, não é necessário a presença da nossa Rainha.
- E se for uma rendição? E se ela quiser um acordo? - perguntou de novo a Rainha.
- Alteza. Acha que ela viria até Nárnia, com tamanho exército, só para propor um acordo? Que acordo seria? Não acredito em nada disso. Não precisamos fazer acordo nem nada. - Lorde Isarim respondeu à ela, que se virou para o outro lorde e perguntou.
- Lorde Doran, enviaste resposta ao oferecimento de tropas da Arquelândia?
- Sim, Majestade. Mandei resposta ontem mesmo, avisando que nosso exército já rumou para o norte. Mas receio que eles demorarão a chegar até lá. É um logo caminho.
- De qualquer forma, a ajuda deles é bem-vinda. - sentada em seu trono, a Rainha deu um logo suspiro e disse. - Pois bem. Eu vou até o norte. Vou saber o que a Feiticeira Branca quer comigo.
Os dois lordes se entreolharam espantados com a decisão, mas não tentaram convencê-la do contrário, pois sabiam que quando a Rainha decide, não volta atrás.
Os serviçais do castelo foram rápidos nos preparativos da viagem. E tão rápida ainda foi a própria viagem, que demorou apenas três dias. Enquanto a comitiva da Rainha passava por entre o exército narniano, ganhava vivas e saudações de todos. Todos achavam que Cisne Branco era a melhor jóia que Nárnia possuía, por isso, todos aclamavam seu nome. Logo a carruagem parou próximo do General, de Nedamus e outros líderes narnianos para que estes recebessem os viajantes com sincera reverência. Enquanto desembarcava, a Rainha acenava para os narnianos que continuavam eufóricos com a visita dela.
- Meu bom General. Me atrasei? - perguntou a Rainha.
- Na verdade, chegou cedo. O encontro é ao cair da tarde.
- Meu amigo, Nedamus. Há quanto tempo. - cumprimentou a Rainha, ao ver o centauro.
- É verdade. Já faz algum tempo que não nos víamos. - respondeu ele. - Majestade, a senhora entende que esse encontro é bastante perigoso. Não é mesmo? - perguntou Nedamus, mostrando preocupação.
- Sim, entendo. Mas, infelizmente, tem coisas que precisam ser feitas. Nárnia não pode se subjulgar a ela.
- E a Rainha não estará sozinha, vou com ela. - disse Lorde Isarim quando se aproximou, que por causa de sua estatura, seria facilmente confundido com um anão.
- Por Aslam, você ainda não entendeu que não preciso de babá? - perguntou a Rainha, se virando para o Lorde.
- E Vossa Alteza ainda não entendeu que não vou deixá-la sozinha com a Feiticeira? - retrucou ele.
A Rainha deu um longo suspiro, mostrando cansaço daquela conversa. Lorde Doran e General Sperdan eram os únicos acostumados com essas discussões entre a Rainha e Lorde Isarim. Por vezes elas chegavam a ser bem acaloradas. E quando Doran chegou perto do General, sussurrou.
- Liga não. Vieram discutindo essa questão por toda a viagem. - o General mostrou que entendeu com um aceno positivo com a cabeça. Os outros procuravam mostrar uma certa indiferença, pois conheciam as discussões entre a Rainha e o Lorde. A Rainha continuou dizendo.
- O encontro é pra ser só nós duas. Como uma conversa entre mulheres.
- Isso está fora de questão. - respondeu ele. - Já discutimos isso na viagem.
- Está bem. Desde que você fique quieto.
Lorde Isarim apenas balançou a cabeça em sinal de reprovação.
- Vamos montar guarda na frente da caverna para o caso de haver algo errado. - disse o General para a Rainha.
- Pois bem. Vamos combinar assim. Me dêem duas horas com ela. Se eu ou o Lorde não aparecermos até esse tempo, podem entrar na caverna. - disse ela notando que todos entenderam essa ordem.
Enquanto aguardavam o momento do encontro, fizeram um grande banquete para a Rainha. Havia refeição e vinho bastante para o triplo do exército narniano. Ela conheceu muitos dos quais ainda não conhecia e todos festejaram a presença dela. E no outro lado da floresta, entre os montes, os seguidores de Jadis recebiam, no acampamento, instruções do Comandante Otmin quanto aos próximos ataques. Tudo o que foi planejado pela Feiticeira, que já seguia o caminho da caverna onde seria o encontro.
Agora, o que me referi á algumas linhas antes, sobre fatos não esclarecidos quanto à Rainha Cisne Branco, transcrevo aqui. Nessa parte, há muitas suposições do que teria acontecido nesse encontro da Feiticeira com a Rainha. Mas a versão mais aceita, e que há de testemunhos mais válidos, é a seguinte:
Na hora marcada, Jadis esperava pela Rainha na frente da caverna, que chegou acompanhada de Lorde Isarim. General Sperdan, Nedamus, Óruns e Lorde Doran, além de alguns narnianos, ficaram afastados, por entre a floresta, na expectativa de acontecer alguma coisa errada. Qualquer movimento estranho, e eles entrariam pela caverna para salvar a Rainha e seu acompanhante. Mas, por causa da distância, não puderam ouvir o que os três conversaram antes de entrar. Depois que entraram, Nedamus comentou com Óruns.
- Agora não há nada que possamos fazer além de esperar. Que tudo ocorra bem. - desejou o centauro, e Óruns concordou com ele.
E esperaram por bastante tempo. Foram uma hora e meia de angústia até que General Sperdan bradou.
- Chega, vou entrar. - mas foi segurado por Nedamus, que viu alguém saindo da caverna.
Era a Feiticeira que saía, em passos lentos, segurando sua varinha na mão esquerda, e com o rosto tranqüilo e um sorriso que indicava vitória. Olhou em direção dos narnianos (de alguma forma, ela sabia que a Rainha seria vigiada), parou por alguns instantes e se virou, voltando a caminhar calmamente na direção do acampamento dela. A preocupação e o espanto tomaram conta daqueles que esperavam pela Rainha. Sperdan e Nedamus se entreolharam preocupados. Foi o General quem correu primeiro para a caverna, seguido pelos outros. Quando entraram, começaram a procurar pela Rainha, mas nada foi encontrado. Somente uma estátua que estava em pedaços pelo chão da caverna.
- Que pedras são essas? Parece uma estátua. - observou Óruns, que estava mais próximo. Lorde Doran se aproximou e reconheceu o que sobrou da estátua.
- Pela juba do Leão. É Lorde Isarim. Mas como aconteceu? - perguntou perplexo.
Todos se aproximaram para conferir a identidade da estátua, e se espantaram ao saber de quem era. Sperdan olhou em volta e mandou que todos vasculhassem a caverna à procura da Rainha. Ele próprio encontrou umas marcas na terra na borda do pequeno lago e mergulhou para saber se a Rainha estaria dentro dele. Apesar de a água do lago ser bastante cristalina, não era muito profundo, nem muito raso. O General logo percebeu que não havia como a Rainha ter caído naquele lago. Voltou para a superfície e na borda do lago perguntou se alguém tinha encontrado, mas teve somente respostas negativas. Sem sair do lago, olhou o chão e, meio que por acaso, encontrou o broche preferido da Rainha Cisne Branco - Um broche com o rosto de Aslam estampado em prata.
- Algo de muito estranho aconteceu aqui. Se a Feiticeira matou a Rainha, então temos que encontrar alguma coisa. Esse broche é o preferido da Rainha. Ela não sai de Cair Paravel sem ele. - disse o General.
- Vamos procurar mais uma vez. - disse Nedamus, preocupado, que foi obedecido por todos. Só que mais uma vez, não viram nada além de pedras, terra e a estátua de Lorde Isarim em pedaços.
- Vasculhamos até os fundos da caverna. Não há nada por aqui. - disse Óruns acompanhado por Graarnes e outro anão.
- O que pode ter acontecido por aqui? - perguntava Lorde Doran, confuso.
- Parece que não há como saber. - disse Nedamus. - Mas precisamos voltar para o exército. Se eu estou certo, a Feiticeira deve atacar a qualquer momento.
O General apenas concordou com o centauro, segurou firme o broche que encontrou e baixou a cabeça, guardando para si a revolta pelo sumiço da Rainha. Assim, eles saíram da caverna, cabisbaixos, como se o mundo não mais existisse.
Há quem diga que General Sperdan saiu da caverna carregando o corpo da Rainha, mas isso nunca foi confirmado por ninguém. O desaparecimento da Rainha, se é que exista algo que esclareça, por alguma razão, foi omitido dos documentos oficiais de Nárnia.